Publicado por: Rudolfo Lago | 16 abr 2021
Pelo seu temperamento, parece claro que o presidente Jair Bolsonaro reagirá à hipótese de virar aquilo que os americanos chamam de lame duck. O presidente “pato manco”, na visão deles, é aquele que chega ao fim de seu governo tremendamente fraco, sem poder. Já não consegue aprovar nada. Já não tem o respeito de seus pares. A ele, retomando aqui uma expressão já nossa mas que tem o mesmo sentido, o garçom do Palácio do Planalto já não passa nem para lhe servir café frio.
Mas a verdade é que Bolsonaro nunca esteve tão próximo como agora do risco de virar um pato manco. Sua situação é extremamente frágil, seja do ponto de vista interno seja do ponto de vista externo. Nada no atual ambiente do Brasil e do mundo parece lhe trazer algum tipo de alento ou ajuda.
Sigamos, pois, de fora para dentro. Em declaração divulgada ontem, o presidente dos Estados Unidos disse esperar “seriedade” de Bolsonaro na Cúpula do Clima, que vai acontecer nos dias 22 e 23 de abril. Ou seja: Biden deixou absolutamente claro que o comportamento do atual governo brasileiro seja tema central da cúpula. Não como exemplo positivo a ser seguido. Mas como algo a ser duramente contestado e criticado. E que espera de Bolsonaro posições concretas de defesa ambiental que o presidente nunca teve.
A posição de Biden é o primeiro ponto importante da mudança do ambiente que fragiliza Bolsonaro. Ele não tem mais, como tinha com Donald Trump, a maior nação do planeta como aliada. Muito pelo contrário.
No momento em que leva esse puxão de orelha de Biden, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, torna-se alvo de uma notícia-crime movida pelo superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva. Na ação, o delegado diz o ministro pode ter cometido crimes para dificultar a ação fiscalizadora da polícia contra madeireiros. Nada bom às vésperas de uma discussão internacional sobre meio ambiente.
Em linha semelhante, o Brasil foi tema de um debate no Parlamento Europeu, no qual se discutiram tanto as nossas trapalhadas no combate à covid-19 como, de novo, a questão ambiental. E as conexões entre uma coisa e outra, como no caso da denúncia de descaso com as populações indígenas. O termo “crime contra a humanidade” foi usado para definir as ações de Bolsonaro por mais de um representante.
Tais pressões externas chegam até aqui no momento em que o Senado está prestes a instalar a CPI da Covid. Seus integrantes já foram escolhidos e a ampla maioria não parece nem um pouco disposta a ali defender o governo. Ou são oposicionistas ou independentes.
Os poucos governistas na comissão pertencem ao Centrão. Que avisa ao presidente que ele precisará sancionar o Orçamento da forma como foi enviado, com os R$ 16 bilhões para eles gastarem. Se não fizer assim, Bolsonaro perderá o apoio que tem. Ou seja: vai ficar sozinho na CPI.
Por outro lado, se o presidente sancionar o Orçamento como está, inexequível, pode perder o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o que ainda tem de apoio do mundo financeiro e empresarial.
Resta ao presidente tentar apelar para a sua torcida organizada, que parece sempre disposta a apoiá-lo. Mas qual é, de fato, o tamanho dela? E que disposição de fato ela terá para um confronto? Houve um presidente que pediu às pessoas que saíssem às ruas de verde e amarelo em seu apoio. As ruas se coalharam de pessoas vestidas de preto.