(Brasília – DF, 24/03/2020) Pronunciamento do Presidente da República, Jair Bolsonaro em Rede Nacional de Rádio e Televisão. Foto: Isac Nóbrega/PR
Publicado por: Rudolfo Lago | 11 set 2020
Um tipo de ativismo que vai ganhando força no mundo está relacionado à palavra inglesa “defund”. Sua melhor tradução é “cortar o financiamento”. “Defund” significa tirar a verba, os recursos, que permitem a sobrevivência do adversário. Em suma, é derrotá-lo pelo bolso.
Um exemplo bem sucedido tem sido o trabalho da organização Sleeping Giants. Ela vem denunciando sites e e blogs nas redes sociais que se associam à distribuição de fake news. E, mais do que isso, denunciam grandes empresas que eventualmente coloquem anúncios e patrocínio nesses sites e blogs, criando para essas marcas um forte constrangimento. Com esse trabalho, já conseguiram que diversas companhias importantes, com medo da repercussão negativa para suas imagens, retirassem suas cotas desses endereços. Ou seja: cortaram o financiamento. Tentam derrotar o inimigo pelo bolso.
Esta semana, ativistas brasileiros começaram uma forte campanha que tenta derrotar o presidente Jair Bolsonaro pelo bolso. Com o nome de “Defund Bolsonaro”, a campanha está veiculando anúncios em inglês que acusam o presidente e seu governo de serem os culpados pela destruição da Amazônia e do Pantanal. Os anúncios afirmam que as queimadas que estão acontecendo nas florestas brasileiros não são incidentes naturais. São provocadas pelos grandes agricultores e têm recebido o incentivo do governo.
No ano passado, as queimadas na Amazônia geraram grande repercussão. Neste momento, vêm acontecendo grandes incêndios no Pantanal. “Bolsonaro is burning the Amazon again” (“Bolsonaro está queimando a Amazônia outra vez”), diz um dos anúncios, com uma foto do presidente brasileiro com os cabelos em pé, como se estivessem pegando fogo. Outros anúncios mostram a ministra da Agricultura, Teresa Cristina, e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, apontado no anúncio como “o pior inimigo de quem você jamais ouviu falar”. No fim, o anúncio, pergunta: “De que lado você está?”
O claro objetivo dos financiadores da campanha é criar uma onda de constrangimento que “defund”, “corte o financiamento” a Bolsonaro. Ou seja, o que se deseja é constranger empresas e possíveis financiadores a investirem no país, como forma de pressionar o atual governo a mudar sua linha com relação ao meio ambiente ou, em última instância, a serem sufocados mesmo até o ponto de serem derrotados.
Ainda que possa ser surpreendente que parta de ambientalistas brasileiros a sugestão para que não se invista no seu próprio país, a verdade é que tal linha de ação pode obter sucesso e, de fato, preocupa o atual governo. Aliás, quem primeiro alertou para esses riscos é agora uma das personagens das peças publicitárias. Foi Teresa Cristina quem primeiro disse a Bolsonaro que o país começava a correr forte risco comercial por conta da visão que se tinha no exterior quanto à sua atual política ambiental.
Já falamos por aqui que o discurso negacionista é uma característica da atual direita que não encontra eco em ideias e movimentos de direita do passado. A direita hoje politiza e considera como pensamentos de esquerda o que, muitas vezes, são consensos planetários vindos de convicções econômicas e científicas. O discurso ambientalista não é, como muitos pensam, uma conspiração de esquerda, mas uma constatação de que estamos rapidamente esgotando os recursos naturais do planeta e que, se não pararmos ou mudarmos de atitude, isso vai se reverter em prejuízo para todos. Boa parte da economia do mundo hoje pensa assim e está disposta a investir na busca desses novos caminhos, e não na ideia de, por exemplo, transformar a Amazônia em um grande pasto.
Mesmo quem não trabalha diretamente nessa busca cobra dos produtos que adquire ou em que investe certificados ambientais. Deseja, por exemplo, que a carne ou a soja que adquire tenha esses certificados. E, quando tais produtos não têm, troca para um fornecedor que tenha.
Ou seja: se cola em Bolsonaro e em seu governo a pecha de “vilão do planeta”, o país perderá negócios. Hoje, o governo corre para evitar tal prejuízo. Mas o desafio é grande. Por um lado, precisa convencer o mundo que segue preocupado com a preservação de suas florestas. Mas, primeiro, precisa convencer a si mesmo e a seus seguidores, já que muitos de fato julgam que isso não é importante, mas tão somente uma conspiração de esquerda. Lá fora, a desconfiança aumenta e os recursos minguam. Quem diria que os “ecochatos” poderiam ser o mais forte inimigo do atual governo.