A famosa frase dita por Júlio Cesar, “vini, vidi, vinci” (em latim, “vim, vi e venci”) depois da vitória na Batalha de Zela para reafirmar ao Senado romano a força do seu poderio militar vira aqui um trocadilho em sentido invertido. Júlio Cesar, como disse, “veio”, “viu” e “venceu”. Witzel, agora, “veio” não se sabe bem de onde, “viu” cair no seu colo uma vitória improvável como governador do Rio de Janeiro e… perdeu…
A decisão do Superior Tribunal de Justiça, pelo acachapante placar de 14 a 1, de manter Witzel afastado do cargo de governador por seis meses é mais que um tijolo na construção de uma das mais breves carreiras da história política brasileira. É uma parede. Na avaliação da grande maioria, parece mais do que provável que Witzel não retornará ao cargo. Muito provavelmente ele será colhido antes disso pelo processo de impeachment aberto contra ele na Assembleia Legislativa do Rio.
Deixemos aqui de lado a gravidade dos indícios descobertos pelo Ministério Público do envolvimento de Witzel em um esquema de desvio de recursos na contratação de serviços para combater a pandemia da covid-19 no Rio. Fiquemos aqui nas questões políticas da desgraça que recaiu sobre ele.
Outros políticos se viram ao longo da história enredados em pesadas denúncias de corrupção contra eles. Muitos caíram. Mas nunca se viu alguém cair tão rapidamente e de forma tão retumbante. E isso talvez se deva a uma característica que os eleitores viam no início em Witzel como qualidade: sua identificação com a tal “nova política”.
Juiz de Direito e de direita, Witzel não parecia ter maiores chances na disputa fluminense até se tornar o escolhido no pleito do presidente Jair Bolsonaro e de seu clã. Com esses apoios, venceu a eleição para seu primeiro cargo público de forma improvável. E deixou-se picar pela mosca azul. Cometeu aquele que parece ser um pecado imperdoável para Bolsonaro: colocou-se como alternativa de direita ao próprio Bolsonaro em 2022.
Se deixou para Bolsonaro rastros de corrupção que ajudaram a pegá-lo, de novo, é análise que não vai caber aqui. Mas o fato é que Witzel, então, viu-se enredado pela própria negação da velha política que lhe impunha o estilo que o elegeu. Sem base política, viu seu processo de impeachment avançar célere na Assembleia do Rio. Sem interlocução com o Judiciário, sofreu acachapante derrota no STJ.
Witzel é agora inimigo de Bolsonaro. Mas é curioso como o seu drama parece ter ajudado como lição ao presidente. O Bolsonaro da “nova política” também não tinha base política. Também não tinha qualquer interlocução com o Judiciário, cujo filho, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), tinha até ameaçado fechar somente com um jipe, um soldado e um sargento. Então, inquéritos surgiram no Supremo Tribunal Federal, pedidos de impeachment começaram a baixar na Câmara. Até um processo na Corte Internacional de Haia chegou a ser protocolado.
Vozes experientes, como o do ex-presidente Michel Temer, que escapa incólume das denúncias que existem contra ele, chegaram aos ouvidos de Bolsonaro: “Não existe velha e nova política; existe política”. A tempo, Bolsonaro começou a fazer política. Se irá fazer o que chama de “velha política” – em português claro, fisiologismo -, só o tempo dirá.
O fato, porém, é que Witzel no Rio é hoje o que poderia vir a ser Bolsonaro no futuro. Quanto a Witzel, não parece haver mais tempo de corrigir sua rota…