Publicado por: Rudolfo Lago | 26 jan 2024
Tanto o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), quando o do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), mandaram recados a interlocutores a respeito de novas investigações que envolvam parlamentares. Para ambos, o 8 de janeiro é um divisor de águas. Deputados e senadores que, no curso das investigações, se verifique que estão diretamente envolvidos com a invasão dos prédios dos três poderes da República e a sua depredação, não terão o amparo dos comandantes do Congresso. Responderão pelos atos que eventualmente cometeram. Quem imagina atos de desagravo vindos de Lira e Pacheco em defesa de deputado ou senador que for investigado vai esperar sentado. Ainda que a visão pessoal do que aconteceu no dia 8 de janeiro do ano passado divirja com relação a Lira e Pacheco.
Embora tenha alegado problemas de saúde na família para faltar ao evento de aniversário do 8 de janeiro, essa divergência de visão é que explica a ausência de Lira. Para ele, o quebra-quebra dos prédios dos poderes foi “baderna”, e não uma tentativa de golpe.
Mas, da mesma forma como os demais presidentes dos poderes, Lira ficou chocado com a destruição que viu quando chegou a Brasília naquele dia. Toda apuração, toda investigação, para encontrar os responsáveis precisa acontecer. E vínculos concretos punidos.
Quem foi “grampeado” pressiona Pacheco
No caso da primeira investigação contra o deputado Carlos Jordy (PL-RJ), isso já explica seu silêncio e nenhuma adesão ao ato de apoio que a oposição organizou na quinta-feira. No caso agora de Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (ABI), uma outra pressão está sendo somada. Por enquanto envolvendo mais senadores que deputados. Diante da desconfiança de que políticos podem ter sido investigados pela Abin, como aponta o despacho do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes que autorizou a operação da Polícia Federal, os parlamentares querem saber quem teria sido “grampeado”. E pressionam Pacheco.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, fez pressão sobre Pacheco nesse sentido e acabou levando uma invertida. Pacheco resolveu partir de forma mais pessoal sobre Valdemar, apontando dubiedades: preside o partido de Jair Bolsonaro mais ensaia elogios a Lula.
Na nota, Pacheco, porém, aponta por onde pode ajudar: o limite aos poderes do STF. Nesse ponto, o presidente do Senado converge com a oposição, e já deu demonstrações. Pacheco cobra Valdemar: que organize, então, a oposição para aprovar esses projetos.
No caso de Lira, é preciso levar em conta que ele tem outro desafio pela frente além do comando do Centrão e dos conservadores na Câmara: a continuação de seus projetos políticos em Alagoas. Lira disputa ali ferrenhamente o comando com o clã dos Calheiros, governista.
Em 2022, Lula venceu Bolsonaro em Alagoas. Teve 58,68% dos votos, contra 41,32%. Ganhou em 89 das 102 cidades. Mas perdeu em Maceió, onde Lira tem o prefeito, conhecido por JHC (PL). Na disputa municipal, Lira quer manter Maceió, mas tem que cuidar do resto.