Publicado por: Rudolfo Lago | 22 jan 2024
Quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se encontrou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quarta-feira (17) e saiu do Palácio do Planalto pela garagem, sem falar nada, o fato chamou a atenção dos jornalistas. Costumeiramente, o ministro fala com os jornalistas. Por que não fez assim naquele dia? O Correio Político apurou que isso aconteceu porque Haddad encontrou um presidente irritado. Como detalha mais Ana Paula Marques em reportagem também nesta edição, a sanha de Haddad em manter sua sonhada meta de déficit zero está fazendo o governo colecionar arestas políticas. E, naquele dia, Lula demonstrou irritação com Haddad nesse sentido. O presidente já começa a vislumbrar um início de ano complicado na relação com o Congresso.
Lula disse a Haddad que não é prudente aumentar ainda mais essa dose de complicações. A MP sugerida pelo ministro e editada no final do ano passado que reonerou a folha de pagamentos foi interpretada pelo Congresso como uma afronta do Executivo.
Esta semana, deverão acontecer novas rodadas de reuniões para tentar uma solução para o tema. O que já está claro, porém, é que em qualquer uma delas Haddad terá de ceder um pouco da sua sanha arrecadatória. No máximo, haverá um meio-termo.
TCU irritou-se com a questão da isenção religiosa
No meio da confusão em torno da reoneração da folha de pagamentos, novo rolo envolveu Haddad. Desta vez, em torno da determinação de suspender a isenção tributária a líderes religiosos. A isenção foi feita no governo Jair Bolsonaro: ampliava a isenção aos templos aos salários de pastores e outros sacerdotes. Ao suspender a isenção, o governo afirmou que cumpria decisão do Tribunal de Contas da União (TCU). Na semana passada, o TCU esclareceu que não era bem assim. De fato, isso está em análise no tribunal, nas mãos do ministro Aroldo Cedraz. Mas não houve uma decisão. O uso do TCU para justificar a decisão, que pode gerar reações da bancada evangélica, provocou irritação.
As posições de Haddad vão gerando uma série de arestas. A questão da reoneração une grande número de deputados e senadores que têm ligações com o mundo empresarial. Esses próprios setores fazem pressão sobre o Congresso. São o principal da economia brasileira.
No PT, repete-se aquela velha divergência entre ortodoxos e heterodoxos. Grupos reclamam que Haddad engessará a economia e reduzirá as chances de investimentos e obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em um ano eleitoral.
E os grupos religiosos são parte importante do Centrão, que hoje domina o Congresso. A irritação de Lula é que cada aresta criada aumenta o preço da negociação: Lira e o Centrão cobram mais cargos e verbas para que as questões sejam resolvidas.
Ainda há um passivo de promessas do ano passado não cumpridas. Lula não entregou, por exemplo, ainda ao Centrão as vice-presidências da Caixa. É o último ano de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco nas presidências do Congresso. Eles tentarão se impor.