Na edição de terça-feira (16), comentamos aqui os movimentos de xadrez em torno das eleições em Goiânia. A movimentação ali merece atenção, porque ela pode projetar alguns movimentos nacionais. Se por um lado PSD e PT conversam para formar ali uma aliança, por outro há os planos do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União). Caiado aquece suas turbinas para tentar se lançar candidato à Presidência da República em 2026. Tenta repetir assim, avaliando que agora com maiores chances, o que o lançou na vida política, que foi a candidatura à Presidência nas primeiras eleições diretas após a redemocratização, em 1989. Caiado era, então, o presidente da União Democrática Ruralista (UDR), o primeiro movimento notadamente de direita da política brasileira pós-redemocratização.
Caiado passou na quarta-feira (16) por uma cirurgia na próstata. Aparentemente, não é algo de maior gravidade. Ele foi diagnosticado com hiperplasia prostática benigna. Corrigido o problema, retorna recuperado à vida política pavimentando seu projeto.
Caiado enxerga que pode ter à sua frente uma avenida. Há uma herança dos votos de direita que foram dados ao ex-presidente Jair Bolsonaro em 2018 e 2022. Bolsonaro está inelegível, e não há clareza de quem poderá de fato herdar esses votos. Caiado coloca-se nesse páreo.
De direita há mais tempo que os outros no páreo
Caiado considera que pode ter um trunfo a seu favor. Ele é de direita há mais tempo que todos os demais nomes no páreo. No final da década de 1980, no momento em que o país se redemocratizava, ele criou a UDR, que fez certo barulho naquele momento. A UDR já teve naquela época um papel importante para conter pontos mais à esquerda e garantir conquistas conservadoras na elaboração da Constituição, em questões como a reforma agrária, por exemplo. Ficou famosa uma passeata que ele fez na época quando entrou na Esplanada dos Ministérios montado em um cavalo branco. De lá para cá, o movimento ruralista cresceu, e hoje o agronegócio domina a economia brasileira.
Essa é a aposta de Caiado. Ele pretende, assim, disputar com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, esse espólio dos votos de direita de Bolsonaro. Considera que, talvez, possa ter uma vantagem na discussão sobre a questão da segurança. É uma de suas apostas.
Enquanto São Paulo patina no tema da segurança, Goiás pode ter números melhores para apresentar. É verdade que a polícia do estado sofre críticas de ser extremamente violenta. Mas parece ter reduzido a criminalidade no estado relacionada especialmente ao narcotráfico.
Goiás é rota do tráfico de entorpecentes que entra no Brasil pela fronteira com os demais países da América do Sul. As ações de Caiado no estado teriam conseguido sufocar pelo menos em parte essa ação dos narcotraficantes, ainda que à custa de violência policial.
Diante desse plano nacional, pela falta de um nome de peso como alternativa, há quem julgue que Caiado pode até ficar mais neutro agora na eleição municipal, como forma de não criar arestas para possíveis apoios futuros nessa sua pretensão presidencial.