Publicado por: Rudolfo Lago | 18 dez 2023
Estabilidade e um mínimo de dinheiro no bolso. Nos 30 anos do Plano Real, pesquisa realizada pelo Instituto Ipespe para a Federação Brasileira dos Bancos mostra a importância desse binômio para o povo brasileiro. Incrível que depois de 30 anos o plano que deu fim à hiperinflação seja ainda a segunda política econômica mais lembrada pelo brasileiro. A primeira é o Bolsa-Família, política adotada pelos governos do PT que garante a todas as famílias um valor mínimo para as suas despesas. Em uma lista de doze programas listados pela pesquisa, o Bolsa-Família foi considerada a política mais importante para 26% dos entrevistados. O Plano Real veio logo em seguida, com 23%. Em terceiro, vem a abertura para o comércio internacional.
A abertura do mercado foi feita no governo Fernando Collor. A pesquisa mostra qual é o tripé considerado essencial pelo brasileiro. Estabilidade e previsibilidade. Um colchão de segurança para os mais pobres. E mais oferta de produtos e melhor poder de compra.
A Febraban encomendou a pesquisa com o propósito de medir a importância do Plano Real às vésperas de completar 30 anos. E confirmou. Apesar da passagem do tempo, 71% consideram que o plano foi “importante” por lançar as bases para uma economia mais sólida.
Inflação, no entanto, segue sendo um fantasma
O que não significa, no entanto, que o brasileiro tenha deixado de se preocupar com a inflação. Nada menos que 79% dos ouvidos na pesquisa consideram que a carestia deve ser “uma preocupação permanente da sociedade e do governo”. Até porque, mostra a pesquisa, a memória dos tempos loucos de hiperinflação antes do Plano Real, quando chegou a haver mais de 100% de inflação anual, não é muito nítida, mesmo entre aqueles que viveram aqueles tempos. Embora 70% digam já ter ouvido falar de hiperinflação, somente 37% dizem lembrar o que seja. Ou seja: a inflação que preocupa, maior ou menor, é a de agora.
Naturalmente, a memória dos tempos de hiperinflação é maior entre aqueles que viveram aquele tempo, os que têm mais de 45 anos. Entre os mais jovens, a memória é bem mais baixa: 26% entre os que têm entre 18 e 24 anos, e 33% entre os que estão entre 25 e 44 anos.
“A inflação é um imposto perverso”, classifica o presidente da Febraban, Isaac Sidney. “Atinge as famílias, dificulta o cálculo empresarial, eleva o risco”. Para ele, o dado mais importante da pesquisa é a percepção do brasileiro de que é preciso combater a inflação.
Embora a pesquisa não diga, o levantamento serve de alerta para aqueles dentro do governo que fazem pressão sobre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no sentido de flexibilizar as metas fiscais. O brasileiro não parece disposto a correr o risco de volta da inflação.
No momento em que é votado o orçamento do ano que vem, ajuda Haddad e o Banco Central nos seus argumentos em favor da responsabilidade fiscal e o controle da inflação. O Ipespe ouviu três mil pessoas entre 3 e 9 de dezembro. A margem de erro é de 1,8%.