Publicado por: Rudolfo Lago | 18 dez 2023
Na manhã de quinta-feira (14), antes da sessão do Congresso que derrubou o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Marco Temporal das terras indígenas, a deputada Célia Xakriabá (Psol-MG) teve uma conversa de cerca de uma hora com o cacique Raoni na abertura de uma feira de artesanato indígena em Brasília. Raoni já prenunciava a derrubada do veto. “Estou muito triste. Mas eles não estão entendendo o que estão fazendo com eles mesmos”, comentou Raoni. “Eles não vão comer dinheiro”. Aos 91 anos, Raoni disse à deputada que, apesar da idade, segue disposto a correr o Brasil tentando conscientizar as pessoas. “Na verdade, mais que indígena, é uma luta pela preservação do planeta”, disse Célia, ao Correio Político.
Célia chegou da COP28, em Dubai, nos Emirados Árabes, para cair diretamente na batalha do veto. Segundo a deputada, as profundas contradições vividas hoje no Brasil na questão ambiental já chamam a atenção do restante do planeta. E poderão nos trazer prejuízos.
“Ao mesmo tempo que pleiteia a COP30, o Brasil transformava uma MP sobre energia limpa em uma medida para renovar energia produzida com carvão, aprovava o PL do Veneno, e agora o Marco Temporal”, critica Célia Xakriabá. “O mundo enxerga essas contradições”.
Bancada do Planeta quer chegar a 200 parlamentares
Assim, na COP28, Célia Xakriabá articulou a criação da Bancada do Planeta, uma congregação de parlamentares de diversas partes do mundo em defesa do meio ambiente. Em Dubai, a bancada iniciou-se com a adesão de cerca de 30 parlamentares, a maioria brasileiros. Mas já ganhou novos adeptos depois. Segundo Célia, a meta é chegar à COP30, em Belém (PA), em 2025, com 200 parlamentares inscritos. Enquanto a Bancada do Planeta era articulada, o mundo vivia o ano mais quente da sua história. “A questão ambiental é concreta”, diz Célia Xakriabá. “E ir a uma conferência não pode ser somente colocar uma gravata verde”.
Para Célia, o caminho possível para alterar consciências em torno da questão ambiental deve ser o diálogo. Agora, novamente a questão do Marco Temporal irá parar no Supremo Tribunal Federal (STF). Mas isso não pode vir a significar uma queda-de-braço interminável.
“Vamos novamente à justiça porque é inconstitucional. E entendemos que os ruralistas sabem disso, só queriam dar uma resposta ao seu setor. Não é uma guerra”, diz ela. Célia, inclusive, diz ser a favor à indenização de agricultores instalados em terras indígenas de boa fé.
A deputada comemorava o fato de alguns parlamentares do PP, do Republicanos e mesmo o deputado Tiririca (SP), do PL, terem votado pela manutenção do veto de Lula. “A consciência vai se formando aos poucos. Ela também comemorava vetos mantidos.
“Vamos às boas noticias. Temos que comemorar a manutenção do veto que impede plantação de transgênicos em terras indígenas, a flexibilização do acesso aos indígenas isolados e o fim de reservas onde houve alteração dos traços culturais da comunidade indígena”, disse.