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Ato convocado por Bolsonaro é jogada de altíssimo risco

Publicado por: Rudolfo Lago | 15 fev 2024

Em 1992, no auge das denúncias feitas por seu irmão Pedro Collor sobre o esquema do seu tesoureiro PC Farias, o ex-presidente Fernando Collor convocou as pessoas a saírem de verde-e-amarelo pelas ruas para demonstrar solidariedade a ele. Foi um tiro de bazuca pela culatra. Multidões encheram as ruas do país vestidas de preto. Ficou claramente demonstrado que Collor não tinha mais apoio popular. Foi o começo do fim. Uma cena típica do pragmatismo político viu-se depois em Brasília. Um deputado aliado de Collor, chamado Onaireves Moura, fez um jantar em solidariedade a Collor. Quando a Câmara determinou a abertura do processo de impeachment, um dos votos favoráveis foi de Onaireves, esse estranho nome que nada mais é que Severiano ao contrário.

Severianos

O episódio veio à lembrança do cientista político André Cesar depois de Bolsonaro agora convocar um ato em solidariedade a ele no dia 25. Quantos Onaireves virarão Severianos? “A lembrança é inevitável”, comenta André Cesar. “Trata-se de uma jogada de altíssimo risco”.

Capital

André toma o cuidado de não fazer exatamente comparações. “Bolsonaro tem mais capital político do que tinha Collor na ocasião”, avalia o cientista político. “Collor nem tinha partido direito. Bolsonaro tem um grande partido, que é o PL, e a capacidade de articulação via redes”.

Pesquisas apontam impressionante resiliência

Para André Cesar, as pesquisas recentes que saíram logo antes do carnaval, apontam para uma impressionante resiliência de Bolsonaro. “O vídeo da reunião ministerial não é nem indício. É prova de que se tramou um golpe. Mas, mesmo assim, Bolsonaro ainda apresenta esses números”, avalia. “Agora, até onde isso de fato vai se revelar uma real capacidade de aglutinar pessoas a essa altura, é o que se verá”. Para André Cesar, há uma grande possibilidade de novas revelações ainda surgirem das investigações e da colaboração do tenente-coronel Mauro Cid. “Ou Bolsonaro demonstra essa grande capacidade de resiliência ou vai ficando cada vez mais restrito ao seu grupo mais radical”.

Direita

Para André, o que fica claro é que qualquer que seja o caminho, ele não deverá apontar para um recuo da direita na sua parcela de representação da sociedade. A análise da situação apontará o caminho que os grupos mais conservadores adotarão nos próximos dias.

Dois caminhos

Há dois caminhos possíveis. Se Bolsonaro seguir mostrando capacidade de aglutinação, a direita seguirá com ele. Do contrário, novas alternativas irão surgir. “Até 2026, há caminho para isso, e, embora ninguém ainda desponte, há nomes e grupos se movimentando”.

Cautela

O que pode atrapalhar agora Bolsonaro é que a falta de clareza pode levar alguns possíveis aliados a adotarem uma postura de cautela. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, por exemplo, está sendo aconselhado por seu partido, o MDB, a não participar do ato convocado.

Cilada

“Numa hora dessas, colar a imagem em Bolsonaro pode ser como aquele meme: ‘É cilada, Bino!”, brinca André Cesar. O meme, no caso, é uma referência a um antigo seriado que contava as aventuras de dois caminhoneiros, Pedro e Bino. O nome: “Carga Pesada”.

Rudolfo Lago