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Quem Ganharia?

Publicado por: Bruno Lago | 20 fev 2024

No meio nerd, é algo comum pegar dois personagens que geralmente não teriam como se encontrar por serem de épocas diferentes dentro da franquia ou até mesmo de franquias diferentes e ficar discutindo como seria um conflito entre eles. O famoso quem ganharia?

Quando falamos de fazer isso para personagens fictícios como Voldemort e Grindewald da saga Harry Potter, por exemplo, dificilmente vai ser mais do que uma mera conversa besta entre amigos que gostam da saga. Conversando pra saber quem foi o vilão mais cruel, quem causou mais problemas para o mundo bruxo e quem ganharia numa luta entre os dois. Porque no fim, são personagens fictícios responsáveis por atrocidades contra outros personagens fictícios.

Porém, uma espécie de “quem ganharia” comparando duas figuras do mundo real responsáveis por cometer barbaridades contra a humanidade me soa desumano demais. Na ânsia de defender ou atacar a fala de Lula, virou esse verdadeiro “quem ganharia” entre Hitler e Netanyahu. Que as redes sociais têm essa mania de simplificar as coisas, já não é nenhuma novidade! Mas, ainda assim, fica o pensamento: se em vez de a gente ficar comparando genocidas como se fossem cartas de Super Trunfo, a gente não deveria estar demonstrando mais empatia pelas vítimas seja do holocausto, seja dos ataques à Faixa de Gaza.

Por isso, eu acredito que a fala do presidente teria sido muito melhor se a referêcia direta ao ditador alemão tivesse sido evitada. Se tivesse dado o mesmo discurso, sem essa citação, o impacto teria sido basicamente o mesmo. Teria feito suas duras críticas ao Estado de Israel, demonstrado seu apoio às vítimas palestinas, mas sem correr o risco de causar desconforto a sobreviventes do holocausto e seus famíliares. Claro, quando falasse em genocídio, o holocausto já viria à mente de qualquer um, mas não falar nominalmente, tomar um cuidado extra, tornaria o discurso muito mais respeitoso justamente por estar críticando um Estado judeu, sem que depois precisasse explicar que a crítica era ao Estado de Israel e não aos judeus de um modo geral.

Bruno Lago