Publicado por: Rudolfo Lago | 20 fev 2024
Mal chegou de volta da Etiópia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou ao Palácio da Alvorada o ex-chanceler Celso Amorim – seu assessor para assuntos internacionais – e o secretário de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta, para uma reunião. Se Lula tivesse julgado um gol de placa o que disse na África, não teria chamado a reunião. O dia começou na Esplanada dos Ministérios num clima de grande preocupação com as repercussões da fala. No Congresso, a preocupação é que a fala de Lula, associada ao problema da segurança com a fuga no presídio de Mossoró, acabe paralisando os demais temas, fazendo com que uma nova semana acabe perdida em um ano encurtado pelas eleições municipais e com uma pauta extensa a ser analisada.
Na Esplanada, há uma sensação de que haverá uma necessidade de corrigir a fala numa estratégia de comunicação. Atacar as atrocidades cometidas por Benjamin Netanyahu na Faixa de Gaza faz mais do que sentido: seria mesmo urgente. O problema foi a forma.
O erro é comparar Netanyahu com Adolf Hitler. Nada nunca deve ser comparado com Adolf Hitler. A reunião com Amorim e Pimenta evidenciou que se percebeu a necessidade agora de um ajuste na declaração. E sempre é ruim quando é preciso se explicar o que se disse.
Talvez nova semana perdida no debate econômico
No Senado, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) retorna na terça-feira (20). Mas evitou-se colocar em pauta por enquanto qualquer discussão mais aprofundada a respeito da questão da reoneração da folha de pagamento dos 17 setores da economia ou da regulamentação da reforma tributária. O temor agora é que qualquer discussão acabe comprometida pelos dois temas, a segurança pública e especialmente agora Israel. E impeça o avanço de discussões que em si já eram complexas. A sensação entre quem já estava em Brasília é de nova semana perdida esperando a poeira baixar. E ainda há um outro fator: o ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para o domingo (25).
O prazo que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem para conseguir resolver a questão da reoneração e a regulamentação da reforma tributária é junho. O que ficar para o segundo semestre acabará comprometido pelas eleições municipais. E a oposição sabe bem disso.
Assim, explorar qualquer tema que desgaste e ajude a manter tenso o ambiente é tudo o que a oposição deseja. Convocações de ministros para explicações, instalações de CPIs, debates acalorados, demolem o ambiente de entendimento que vinha se construindo no Senado.
Há ainda duas CPIs a serem instaladas. A sobre as ações do Supremo Tribunal Federal (STF) na Câmara e a da Braskem no Senado. Presidente da CPI da Braskem, Omar Aziz (PSD-AM) deve definir o relator. E deve repetir a dobradinha com Renan Calheiros (MDB-AL).
Se a fala de Lula sobre Israel encontra aplausos mais à esquerda, gera perturbação no campo mais conservador. E é no campo mais conservador que joga o Congresso. O problema para Lula é que é nesse campo também que ele precisa jogar para aprovar suas pautas.