Publicado por: Rudolfo Lago | 27 fev 2024
Os rumos da política são curiosos. A direita começou a crescer em Portugal como consequência da reação xenófoba dos portugueses contra a imigração crescente. No entanto, apesar disso, boa parte dos brasileiros que vivem hoje em Portugal estão apoiando o partido de extrema-direita Chega. Pela aproximação do partido de grupos evangélicos nos quais estão boa parte dos migrantes brasileiros. Na esteira da manifestação feita no domingo (25) pelo ex-presidente Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo, pesquisa feita pelo Instituto Ipespe, do cientista político brasileiro Antônio Lavareda, mostra que a direita – que, a julgar pelo movimento na Paulista, por aqui continua viva – cresce em Portugal. E pode obter a maioria.
O regime de governo português é parlamentarista. Segundo a pesquisa do Ipespe, realizada entre os dias 21 e 23 de março, lidera a preferência do eleitorado a Aliança Democrática, de centro-direita, com 24%. O Partido Socialista, de esquerda, hoje no governo, tem 22%.
Em terceiro lugar, está o Chega, com 16%. E depois a Iniciativa Liberal, de centro-direita, com 8%. Somente depois, o Bloco de Esquerda, com 6%. Como essas intenções de voto definirão a distribuição das cadeiras, a tendência é de uma formação mais à direita.
Mais um caso de guinada conservadora no mundo
Portugal vai apontando para se tornar, portanto, mais um caso de guinada conservadora no mundo. Como a Itália de Giorgia Meloni, ou a Argentina de Javier Milei. Veremos como se comportarão os Estados Unidos em novembro, na disputa entre Donald Trump e o atual presidente Joe Biden. Movimentos que, de alguma forma, podem vir a influir nas nossas disputas eleitorais internas. Teremos eleições municipais em outubro. E é importante avaliar até que ponto os sinais vindos da Paulista no domingo podem influenciar o pleito por aqui. O ato acabou dando sinais diversos quanto ao comando de Bolsonaro sobre as demais forças.
Em São Paulo, as presenças tanto do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) quanto do prefeito Ricardo Nunes (MDB) definiram que o jogo conservador será no campo de Bolsonaro. Definiu-se ali uma demarcação que acabará influindo na disputa.
Essa polarização era desejada pelo candidato de esquerda, Guilherme Boulos (Psol), mas as radicalizações podem assustar. Na cidade de São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva venceu Bolsonaro em 2022. Mas Bolsonaro vendeu Lula no estado.
Já no Paraná, o governador Ratinho Júnior evitou a manifestação. Ratinho Júnior é do PSD, partido que gosta de ter um pé em cada canoa. Seu comandante, Gilberto Kassab, é secretário do governo de Tarcísio em São Paulo. Mas tem também três ministérios.
Ainda que não venha a ter influência jurídica para evitar a evolução dos processos, o ato de domingo demonstra a capacidade de arregimentação popular de Bolsonaro. E, como consequência, sua influência política. Bolsonaro influi no pleito de outubro. E até em Portugal.