Publicado por: Rudolfo Lago | 23 fev 2024
Na avaliação de pessoa bem próxima do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saboreou feliz no convescote que fez ontem no Palácio da Alvorada os resultados dos movimentos que fez durante o recesso. Os movimentos que Lula fez para se aproximar do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e de atores da oposição, como os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PL), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), surtiram o efeito de empurrar o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) para o seu colo. Lula indicou que poderia construir outros caminhos de entendimento no Congresso sem depender tanto de Lira. Agora, é administrar a situação.
Ao perceber esses movimentos, Lira primeiro reagiu duramente. Para depois, porém, perceber que poderia acabar isolado. Se Lira queria endurecer o jogo, Lula demonstrou que tinha possibilidade de fazer novas pontes e encontrar outros interlocutores.
Ao se aproximar, por exemplo, de Tarcísio de Freitas demonstrando respeitar seu papel na oposição, Lula demonstrou ao Republicanos que esse tipo de jogo institucional é possível. O Republicanos já está no governo, com o Ministério de Portos e Aeroportos.
Aproximações mostraram que Lula tinha cartas na manga
No caso da sucessão de Lira, Lula demonstrou que poderia sacar da manga outros apoios. Esvaziando as possibilidades do favorito de Lira, Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e inflando as possibilidades de Marcus Pereira (Republicanos-SP). E ainda acenando para Antônio Brito (PSD-BA) como alternativa. Em sua tradicional prática de ter um pé em duas canoas, o PSD está tanto no governo de São Paulo, com seu próprio comandante, Gilberto Kassab, que é secretário, quanto no governo federal, com três ministérios (Minas e Energia, Agricultura e Pesca). Com Pacheco, Lula começou a dar demonstração de que poderia construir via Senado.
O cacife de Lira está diretamente vinculado à capacidade que tem hoje de definir recursos orçamentários e o controle de cargos, como, por exemplo, a presidência da Caixa. Mas isso está vinculado ao fato de ser presidente da Câmara. E ele deixará de presidi-la no ano que vem.
Se o governo depende dos votos que Lira comanda, Lira também depende do governo. Se há outros caminhos de interlocução política além de Lira, isso indicaria aos parlamentares que a vida pode seguir no Congresso sem necessariamente a chancela do presidente da Câmara.
A primeira reação de Lira ao perceber os movimentos de Lula foi o duro discurso que fez na reabertura dos trabalhos do Congresso. Mas, na verdade, isso foi lido no Planalto como ponto positivo. Ao reagir duramente, Lira teria passado recibo do seu desconforto.