Publicado por: Rudolfo Lago | 6 mar 2024
Em entrevista recente ao jornalista Kennedy Alencar, da Rede TV!, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que, na sua avaliação, o golpe militar de 1964 é passado, “faz parte da história” e que ele “não estava preocupado com isso”. Diante da fala, uma assessora do Ministério dos Direitos Humanos perguntou ao presidente se atos programados para lembrar os 60 anos do golpe e da ditadura militar deveriam, então ser suspensos. “Claro que não!”, Lula respondeu irritado. “Quem disse isso?” Bem, quem disse, ou deu a entender, foi o próprio Lula. Segundo o assessor especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade do Ministério dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, os atos que lembrarão os 60 anos do golpe estão mantidos
Ao Correio Político, Nilmário detalhou toda a agenda que está programada e que ele coordena. Para Nilmário, para além do que Lula fala, é sempre importante observar o que ele faz e sempre fez com relação à ditadura militar e à defesa da democracia.
“Quando ele me escolheu ministro dos Direitos Humanos em seu primeiro governo, o foco era o direito à memória e à verdade”, diz Nilmário. Para Nilmário, o que Lula não deve querer é aumentar ainda mais possíveis zonas de atrito com os militares.
Programação começa em 31 de março e entra por abril
Por isso, é provável que o próprio presidente não participe dos atos programados, que começam no domingo, 31 de março. Nesse dia, haverá em São Paulo, no Parque do Ibirarapuera, a “Marcha do Silêncio”. Na segunda-feira (1), um ato marcará o lançamento da pedra fundamental do futuro Museu da Democracia, que será construído em frente ao Teatro Nacional, no início da Esplanada dos Ministérios. No mesmo dia, haverá no Rio de Janeiro a “Marcha Reversa”. A ideia é fazer ao contrário o que caminho que as tropas comandadas pelo general Olímpio Mourão Filho fizeram em 1964. A marcha sairá do Rio e irá até Juiz de Fora (MG).
Haverá uma parada em Levy Gasparian (RJ). Ali, o general Mourão planejou explodir a ponte que existe na divisa entre o Rio e Minas Gerais, sobre o rio Paraibuna, caso houvesse resistência. Parentes do presidente deposto em 64, João Goulart, participarão da marcha.
Em Juiz de Fora, às 16h, haverá um ato em frente à praça onde ficava a auditoria militar. Foi al que a ex-presidente Dilma Rousseff prestou o depoimento que gerou aquela famosa foto, em que encara os militares que parecem esconder o rosto, envergonhados.
Dois julgamentos simbólicos estão marcados para o dia 2 de abril. O primeiro para uma reparação ao povo indígena Krenak. Em Minas Gerais, na região Krenak,foi criada na época a Guarda Indígena Rural, que treinava indígenas para atuarem como torturadores.
O segundo julgamento simbólico será sobre o caso dos nove funcionários da Embaixada da China, presos injustamente em 1965, torturados e expulsos do país. “Há ainda outros eventos”, diz Nilmário. “O golpe não pode ser esquecido para que não mais aconteça”.