Publicado por: Rudolfo Lago | 28 fev 2024
Duas avaliações após o ato de domingo (25) vêm sendo feitas entre os observadores políticos dentro do governo Luiz Inácio Lula da Silva. A primeira é a constatação da capacidade ainda de arregimentação política do ex-presidente Jair Bolsonaro. Essa não chegou a surpreender o governo, embora houvesse a expectativa de um ato menor. A segunda avaliação, porém, surpreendeu: a capacidade em levar autoridades políticas. O governo imaginava que a essa altura os políticos conservadores iriam querer se descolar de Bolsonaro. Avaliaram errado. Os nomes mais expressivos foram ao ato. E a avaliação agora é quanto a como isso irá se refletir nas próximas eleições. A avaliação é que Bolsonaro talvez tenha grande capacidade de transferência.
E isso poderá se refletir em algumas composições pelos estados. Especialmente nas principais capitais. Em São Paulo, saiu fortalecido o apoio de Bolsonaro à tentativa de reeleição do prefeito Ricardo Nunes, o que empurrará o MDB local para o campo mais conservador.
No Rio de Janeiro, o governo avalia que Eduardo Paes (PSD) segue tranquilo na sua tentativa de reeleição. Mas, diante dos problemas de André Ramagem (PL) com as investigações, especula-se um possível retorno da candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL).
Polarização ainda demarca lados. A direita tinha de ir
O que pareceu ficar claro após o ato de domingo é que os políticos conservadores perceberam que a polarização política brasileira ainda demarca fortemente os lados. Quem quer se posicionar junto ao eleitorado no campo mais à direita precisava aparecer ali na foto. Ou acabaria identificado com o outro lado. Bolsonaro está inelegível. Não participará da próxima eleição nacional. Diversos políticos ambicionam herdar esse espólio. Se querem herdar os votos dos eleitores bolsonaristas, precisam aparecer ao lado de Bolsonaro. Parece dissipada a ideia de que essa aproximação poderia ser um limitador de votos, pesados os riscos.
O governo, por exemplo, surpreendeu-se com a presença no ato do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil). Mas agora já compreendia que se Caiado quer herdar os votos da direita, precisava estar lá. Não será aparecendo ao lado de Lula que ele terá mais chances.
Mais ainda, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que deve sua trajetória política a Bolsonaro, de quem foi ministro. Pesquisa feita durante o ato no domingo mostra que ele hoje é de longe o grande herdeiro dos votos dos eleitores bolsonaristas.
Durante o ato, o Monitor do Debate Político, da Universidade de São Paulo (USP), perguntou a quem estava presente quem herdaria os votos de Bolsonaro caso ele não disputasse (e ele não disputará). Tarcísio foi disparado o nome mais mencionado, com 61%.
Michelle Bolsonaro foi o segundo nome mais citado. Mas bem mais atrás, com 19%. O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), teve 7%. Caiado sequer foi mencionado. Ou seja, se quer ter os votos do grupo, o governador goiano tinha mesmo de estar no ato.