Publicado por: Rudolfo Lago | 29 mar 2024
A pesquisa do Datafolha divulgada nesta semana revelou a melhora do conceito de dois poderes já há um tempo vistos com desconfiança pela sociedade brasileira. O Congresso, muito associado a uma percepção de corrupção no jogo do toma-lá-dá-cá, e o Supremo, relacionado a um sentimento de que extrapola de suas funções, especialmente na investigação dos atos antidemocráticos. O curioso é que o Datafolha aponta para uma melhora de ambos justamente no momento em que Judiciário e Legislativo acentuam suas posições. Claramente é possível se fazer a leitura do que esses números representam. STF e Congresso estão lucrando com a polarização. Mas experimentam seus crescimentos justamente em sentidos opostos.
Tanto no caso do Congresso quanto no do STF, há um empate entre os que aprovam e desaprovam. Aprovam o Congresso 22%. E desaprovam 23%. Os que aprovam o STF são 29%. Os que desaprovam 28%. Números baixos de aprovação, mas os melhores de muito tempo.
No caso do Congresso, a aprovação registrada pelo Datafolha foi a melhor desde 2002. No caso do Supremo, a reprovação ao seu trabalho caiu nada menos que dez pontos percentuais com relação à rodada anterior da pesquisa. As atuações foram opostas.
STF cresce com investigações. Congresso se contrapõe
O STF cresceu exatamente no momento em que acentuou as suas ações nas investigações dos atos antidemocráticos e dos lamentáveis eventos ocorridos no dia 8 de janeiro de 2023. A pesquisa reflete o impacto da Operação Tempus Veritatis, do depoimento do tenente-coronel Mauro Cid e dos procedimentos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. O Congresso subiu exatamente no momento em que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), acentua ações e discursos para diminuir os poderes da Suprema Corte, acentuando as prerrogativas do Parlamento. E é seguido pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Se os comportamentos são opostos, não é difícil concluir que os crescimentos, da mesma forma, são puxados por lados opostos. Quem aplaude o Congresso, critica o STF nas suas ações. Quem aplaude o STF, discorda do Congresso quando busca limitar suas ações.
Talvez esteja aí também a razão pela qual Lula recomendou ao seu governo silêncio sobre os 60 anos do golpe militar de 1964. Relembrar a efeméride seria mexer nesse mesmo vespeiro. E Lula, como presidente, precisa lidar com as vespas de um lado e do outro.
Apoiar atos de esquerda de lembrança do golpe estimularia também atos de direita. Um lado acentuando a memória de desmandos, prisões, desaparecimentos e torturas. O outro comemorando a intervenção militar que “evitou a ascensão no Brasil do comunismo”.
Lula e o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, fizeram um acordo com as Forças Armadas para que oficialmente não houvesse Ordem do Dia ou qualquer manifestação oficial sobre os 60 anos do golpe. Como contrapartida, comprometeu-se ao silêncio em troca.