Publicado por: Rudolfo Lago | 27 mar 2024
Ex-ministro da Justiça, o senador Sergio Moro (União-PR), comentava no Senado na terça-feira que o possível envolvimento do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), e de seu irmão, Domingos, no assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, já era algo conhecido nas investigações desde 2019. Nesse sentido, ele comentava que o caso poderia ter sido concluído bem antes. Só não foi, conforme sua avaliação, justamente pelo “clima de polarização política” que ainda ocorre no país. Na ocasião, desconfianças quanto à federalização do caso durante o governo Jair Bolsonaro fizeram a própria família de Marielle ser contra a transferência da investigação naquele momento para a Polícia Federal. “A linha da investigação na época já era essa”, disse Moro.
Moro lembrou que a decisão de levar a apuração para a Polícia Federal foi tomada ainda no governo Michel Temer, pelo então ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann. Porque já havia a impressão, segundo Moro, de falhas na condução da apuração no Rio de Janeiro.
Uma testemunha plantada visava desviar o rumo culpados. Já com Moro no ministério, a PF já colocou seu nos irmãos Brazão. Mas a família de Marielle foi contra a federalização. “Começamos a nos posicionar contra [a federalização] em respeito à vontade da família”, disse.
Sem interferir diretamente, ritmo ficou como Lira previa
Desde o momento em que pisou em Brasília na segunda-feira (25), a intenção do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), era deixar ao máximo a decisão sobre o ritmo adotado na análise da prisão de Chiquinho Brazão nas mãos dos deputados, para evitar que se disesse que ele estava direcionando o caso. Mas, como contamos na segunda, Lira imaginava um ritmo mais lento para a análise. Os demais deputados, porém, demonstraram pressa, escolhendo logo o relator na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e marcando a análise para o dia seguinte. Ao final, o ritmo caiu na forma imaginada antes por Lira: os deputados que pediram vistas (mais tempo para análise) de 72 horas.
Com o pedido de vistas, o ritmo ficará como Lira pretendia inicialmente. O processo só fica pronto para análise na quinta-feira (28), véspera do feriado da Semana Santa. Não irá, assim, para o plenário da Câmara neste mesmo dia. Em tese, fica para a semana que vem.
Ocorre que a próxima semana é quando acontece a janela partidária: o momento em que deputados podem mudar de partido sem sofrer sanção. Os deputados já tinham pedido uma pauta mais enxuta, porque, com as trocas, os tamanhos das bancadas se alterarão.
Assim, avalia-se que a análise da prisão no plenário não seria também na semana que vem. O dia que se avalia é o dia 10 de abril (quarta-feira da semana seguinte). Para Lira, não haveria prejuízo nem razão para pressa: enquanto não se decidir, Brazão permanece preso.
Mas, no fundo, Lira prefere assim. Havia uma avaliação de que pressa demais poderia fazer parecer ceder à pressão do Supremo Tribunal Federal (STF). Fica, então, como a frase de Pinheiro Machado: “Nem tão devagar que pareça afronta, nem tão rápido que pareça medo”.