Publicado por: Rudolfo Lago | 22 mar 2024
Ao se defender das críticas que tem recebido, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, socorreu-se do discurso da “herança maldita”, afirmando que teria recebido o ministério da gestão anterior em estado de “abandono e desestruturação do sistema público”. A linha de defesa acabou acentuando a guerra política. Porque, naturalmente, o ex-ministro Marcelo Queiroga, o antecessor, reagiu para defender a sua gestão. E começa a postagem com uma foto delicada para Nísia: ela mostra o ex e a atual ministra juntos. Embora estejam de máscara, porque a foto é do tempo da pandemia, aparentemente os dois sorriem. A foto mostra ambos exibindo uma ampola da “vacina 100% nacional”, que foi produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
E Queiroga adiciona depois mais duas delicadezas: a produção recebeu R$ 1,9 bilhão do ministério sob Queiroga; hoje, a vacina não está mais sendo produzida no laboratório da Fiocruz. “E não é só vacina. É um conjunto de fatores”, disse Queiroga ao Correio Político.
A delicadeza para o governo Luiz Inácio Lula da Silva está no fato de Nísia agora estar na berlinda por problemas que se assemelham aos que geraram as acusações contra o governo Jair Bolsonaro: a falta de controle e de ações efetivas de combate a uma epidemia.
Nas redes, Queiroga usa contra Lula #genenocida
Queiroga conclui suas postagens usando contra Lula duas hashtags, repetindo, assim, a luta política que havia contra Bolsonaro na pandemia de covid-19: “#genocida”, que era atribuída a Bolsonaro, e “#presidengue”. Desde o início do ano, o país registrou 1,8 milhão de casos de dengue. No mesmo período do ano passado, foram pouco mais de 400 mil casos. Até o final de fevereiro, foram 561 mortes, mais da metade de todas as mortes registradas no ano passado. Ainda que a epidemia de dengue seja grave, os números com relação à covid-19 são imensamente mais altos: mais de 700 mil mortes, mais de 38 milhões de casos.
A questão das vacinas contra a dengue é um ponto incômodo para Lula, como ele mesmo pontuou na reunião ministerial na segunda (18): gerou-se uma falsa expectativa na população. A Organização Mundial de Saúde reconheceu: não haverá vacinas.
Ao jornalista Jamil Chade, do UOL, o diretor-geral da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), afirmou que a atual epidemia de dengue não será resolvida com vacina, porque não há doses suficientes disponíveis. Vacina foi a fragilidade de Bolsonaro.
Sempre se poderá dizer que, no caso de Bolsonaro, pesou contra ele o mau exemplo. Ainda que o governo anterior afirme ter, ao final, adquirido as vacinas, ele mesmo questionou-as o tempo todo, não as tomou e ainda agora responde pela falsificação de registro de vacinação.
A crise já fez Nísia demitir duas pessoas, envolvidas com problemas na administração de hospitais federais: Helvécio Magalhães e Alexandre Telles. Mas está sendo pressionada agora a fazer nova demissão: a secretária de Vigilância em Saúde, Ethel Maciel.