Publicado por: Rudolfo Lago | 18 mar 2024
Há uma canção do The Clash, clássico do pop, que diz no refrão: “Should I stay or should I go?”. A essa altura, o PL, especialmente seu presidente Valdemar Costa Neto vivem dilema semelhante ao do personagem da canção do The Clash: “Eu paro ou eu sigo?”. No sábado (16), o ex-presidente Jair Bolsonaro lançou a pré-candidatura do deputado Alexandre Ramagem (PL) à prefeitura do Rio de Janeiro. Na sexta-feira (15), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes autorizara a publicação das íntegras dos depoimentos dados na investigação dos atos antidemocráticos. E lá estava o depoimento de Valdemar tentando se isentar de qualquer responsabilidade e entregando Bolsonaro aos leões.
De todos os depoimentos divulgados na sexta-feira (15), o que gera mais surpresas é o de Valdemar. Já se sabia que os comandantes do Exército Freire Gomes e da Aeronáutica Baptista Junior confirmavam as reuniões no governo sobre a suposta tentativa de golpe.
Os depoimentos dos dois comandantes são devastadores no que trouxeram de detalhes. Mas o de Valdemar surpreende. Ao procurar se isentar, ele joga nas costas de Bolsonaro todas as eventuais ações que envolvem na investigação o partido que ele comanda.
Como segue o plano de o PL eleger mil prefeitos?
Segundo pessoas próximas de Valdemar, o fato de ter sido inicialmente preso o abalou psicologicamente. Valdemar tem 74 anos. Não é mais réu primário. Foi preso e condenado após o Mensalão. No Mensalão, já se meteu forte no rolo por um governo que apoiava. Não quer agora novamente ver-se metido para valer no rolo de um outro governo, oposto ao primeiro, que apoiou. O problema é saber até onde essa dubiedade e essas contradições, que deverão se acentuar no aprofundamento das investigações da PF e do Supremo, poderão atrapalhar os planos que imaginou de eleger mil prefeitos nas eleições deste ano.
É bem provável que Valdemar seja novamente chamado a depor. Porque há uma contradição no seu depoimento e o dos comandantes sobre o conhecimento da chamada minuta do golpe. Segundo ele, o texto, ou textos, eram apócrifos e mandados por apoiadores.
Freire Gomes e Baptista Junior disseram que a minuta foi discutida em reuniões com Bolsonaro e o então ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira. Ocasiões em que eles a refutaram. Ou seja, não era apócrifa, certamente foi formulada por alguém do próprio governo.
Ao lançar Alexandre Ramagem no Rio, Bolsonaro mencionou que o mundo está “caindo na cabeça” e que “não teme o julgamento”. Verdade ou não o que disse Bolsonaro, Valdemar, ao contrário, claramente teme o seu julgamento. Esse é o dilema da estratégia do PL.
Ao lançar Ramagem, Bolsonaro dobra a aposta, enfrentando as investigações sobre ele e seu ex-chefe da Abin. Enquanto isso, Valdemar conduz o PL ao mesmo tempo em que tenta se defender, pensando no que irá dizer. Como na canção, não sabe se para ou se segue.