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Agruras de um governo analógico

Publicado por: Rudolfo Lago | 20 maio 2024

A tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul levou o governo a uma constatação amarga. Nos atuais tempos de polarização política, o desafio de fazer a sociedade constatar as suas realizações tornou-se muito maior. O governo entende que, desde o início da tragédia, mobilizou-se para ajudar os gaúchos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prepara-se para ir ao Rio Grande pela quarta vez. Se há claro interesse político, há também preocupação genuína – a história está coalhada de pouca atenção a tragédias humanitárias. No entanto, tudo isso pouco mexe nos ponteiros da popularidade. Em recente reunião em Brasília, o marqueteiro Sidônio Palmeira constatou que há um gap entre o que é governo e a percepção do governo.

Irritação

Quem acompanhou as reuniões com Sidônio Palmeira, assistiu a momentos de grande irritação do marqueteiro. Ele chegou a ameaçar voltar para seu estado, a Bahia, e deu um soco na mesa, resumindo o que constatou: “A comunicação é desastrosa. É preciso mudar tudo”.

Nada digital

O maior problema é que a comunicação do governo, a começar por Lula, é totalmente analógica e pouco proativa. As estruturas para as redes sociais são pífias. E os ministérios burocraticamente só atendem a demandas, que muitas vezes nem respondem.

Com Pimenta, Lula doou um Fiat Marea para o Sul

Após Lula colocar Paulo Pimenta para ser a “autoridade federal” de reconstrução do Rio Grande do Sul, petistas reunidos avaliavam a escolha. Diante da constatação de que o problema maior do governo seria de comunicação, houve quem brincasse que, então, no esforço de doações aos gaúchos, Lula teria doado ao Rio Grande do Sul um Fiat Marea. O carro costuma ser usado como um exemplo de bomba automotiva: uma encrenca,dá um monte de problemas, tem manutenção cara e baixo valor de revenda. Se o problema é fazer os esforços do governo chegarem à população, vai resolver com o responsável pela sua comunicação?

Troia

Quem defende a escolha de Pimenta afirma que Lula instalou no Sul um “cavalo de Troia”. A partir da tragédia, coloca ali um político com pretensões eleitorais para dividir a atenção em um estado em que o ambiente é completamente adverso e hostil.

Lucro

Se der certo, lucro para Lula e para Pimenta, que se habilita a ser governador do Rio Grande do Sul. Se der errado, Lula terá se livrado de Pimenta na comunicação do governo. Mas poderá ver sua situação no Sul do país, onde perde, piorar ainda mais um pouco.

Comunicação

Mais do que tudo, porém, o que o governo precisa é ter um plano de comunicação. Imprimir uma marca para o terceiro mandato de Lula que a população identifique e compre, como foi o Bolsa-Família ou o Minha Casa, Minha Vida. Não há nada disso até agora.

Quem?

Nesse sentido, há quem aposte que a interinidade de Laércio Portela na Secom será curta. Dois nomes despontam: o próprio Sidônio e o prefeito de Araraquara, Edinho Silva. Edinho pretendia cumprir seu mandato. Mas já há quem aposte que possa vir antes.

Rudolfo Lago