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Cenas de política explícita no Rio Grande do Sul

Publicado por: Rudolfo Lago | 16 maio 2024

Nos debates iniciais na sessão de quarta-feira (15) no Senado, ficou claro o incômodo da oposição com a decisão do governo de transformar o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Paulo Pimenta em autoridade federal para a reconstrução do Rio Grande do Sul. As críticas de senadores como Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Esperidião Amin (PP-SC) indicam que o governo poderá ter algum trabalho para aprovar a Medida Provisória que cria o cargo para Pimenta. No mínimo, haverá debate e resistência da oposição. Que deverá redundar para negociações mais profundas, liberações de emendas e de cargos. Uma opção por tornar explícita a disputa política no Rio Grande do Sul para além do esforço de reconstrução do estado depois do drama.

Dividendos

A opção de Lula pode gerar dividendos. Se Pimenta for bem sucedido na tarefa, pode se alavancar para uma disputa pelo governo do Rio Grande do Sul em 2026, fazendo com que o PT recupere um estado onde já foi forte, mas que hoje é dominado pela oposição.

Errado

Mas pode também, por outro lado, dar bastante errado. Principalmente por deixar tão clara a ideia de dar viés político-eleitoral ao esforço para recuperar o estado gaúcho. A reação, por exemplo, do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), foi imediata.

Secom com Pimenta parecia um CTG

Uma das críticas que havia com relação à Secretaria de Comunicação com Paulo Pimenta é que ela parecia um Centro de Tradições Gaúchas (CTG), aqueles espaços que existem por todo o país nos quais gaúchos “pilchados” se reúnem para tomar chimarrão. Havia sempre um trânsito imenso de prefeitos do estado e diversos auxiliares gaúchos, mostrando que a prioridade política de Pimenta era tão grande ou maior que a de promover a comunicação do governo. Como autoridade para a reconstrução do estado, Pimenta “caiu para cima”. Ali, poderá fazer política regional de fato. Mas o risco: isso poderá soar como oportunismo.

Leite

Evidentemente, parte da reação no Rio Grande do Sul decorre também de outros cálculos políticos. Uma boa condução da reconstrução do estado poderá também alavancar o governador Eduardo Leite para outros voos, em momento em que o PSDB míngua politicamente.

Tragédias

Sem maiores sutilezas, o que acontece no Sul vai seguindo o manual político de condução de tragédias. Nos Estados Unidos, por exemplo, a aparente falta de atenção de George W. Bush ao drama do furacão Catrina em Nova Orleáns foi determinando para o fim da sua carreira.

Bahia

Aqui no Brasil, aparentes sinais da despreocupação do então presidente Jair Bolsonaro quando houve drama semelhante com chuvas na Bahia também determinou queda na sua popularidade. Na época, Bolsonaro estava de férias em Santa Catarina. E de férias continuou.

Covid-19

A condução na pandemia de covid-19 é outro ponto anotado como determinante para Bolsonaro não ter sido reeleito. Lula tenta ler esse manual apresentando agora postura oposta quanto ao foco na tragédia. O risco é parecer demais que o interesse maior é o voto.

Rudolfo Lago