Publicado por: Rudolfo Lago | 2 maio 2024
A esquerda tem a chance de vir a comandar a maior cidade do país. O deputado federal Guilherme Boulos (Psol) lidera a disputa eleitoral em São Paulo, mas a sua vantagem só vem diminuindo, com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) nos seus calcanhares. Se Nunes ultrapassar Boulos, será mais um a reforçar o que, pelos números mais recentes das pesquisas eleitorais (como mostra a reportagem Especial desta edição do Correio da Manhã), será a tendência da decisão do brasileiro no pleito municipal de outubro: a escolha de nomes que circulam na centro-direita. A eleição municipal anterior costuma ser uma prévia da eleição presidencial seguinte. O que a confirmação dessa tendência irá significar será preciso analisar.
Dois partidos despontam como aqueles que, hoje, elegeriam maior número de prefeitos de capitais: PSD e União Brasil. Ambos estão à frente em cinco cidades. Com planos eleitorais diferentes. O pragmático PSD pode reforçar apoio à reeleição de Lula.
Já o União Brasil, se for capaz de sair das páginas policiais e voltar para as páginas de política, vislumbra a chance de herdar os votos de direita de Jair Bolsonaro, com ele fora da disputa. Com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, o União posiciona-se para 2026.
PSD é uma salada comandada por Kassab
A cientista política Lucia Hippolito escreveu um dos livros seminais da política brasileira: “PSD, de Raposas e Reformistas”. Tratava, é claro, do PSD original, que dominou a política em boa parte do período ao final da ditadura de Getúlio Vargas. No livro, Lucia Hippolito mostra como a combinação das posições mais conservadoras e de centro no PSD criou um partido fundamental para manter a estabilidade política naqueles tempos conturbados ameaçados quase sempre pela sombra do golpe. Kassab sonha em tornar o seu partido algo próximo do antigo. Na lista dos nomes que lideram do partido nas capitais, há de tudo. Para ele, é ótimo.
O prefeito de Florianópolis, Topázio Neto, embora de perfil discreto, é próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em um dos estados mais conservadores do país, sua posição é natural. Eleito, tenderá a ser cabo eleitoral da opção que Bolsonaro vier a abraçar em 2026.
Já o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, apoia a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A sequência de pesquisas vem sempre mostrando vantagem bastante sólida. Até pelos problemas na Justiça, o deputado Alexandre Ramagem (PL) não parece uma ameaça.
Todas as pesquisas nacionais de opinião continuam mostrando a força que permanece da polarização. O eleitor ainda é movido pelo amor ou pelo ódio que sente por Lula e por Bolsonaro. Apesar disso, talvez comecemos a vislumbrar o começo do fim da polarização.
Com Bolsonaro inelegível, suas forças terão de buscar um outro nome. E nenhum daqueles que hoje vislumbra como alternativa são, de fato, representantes da extrema-direita. Eis aí o que pode, então, vir a representar o pleito de agora: o prenúncio de uma nova era.