Publicado por: Rudolfo Lago | 25 abr 2024
Desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou no domingo (21) com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o governo liberou R$ 4,9 bilhões em emendas orçamentárias. O que exatamente Lula e Lira conversaram no domingo não se sabe ao certo. Porque nem um nem outro estão dispostos a contar. Como disse mesmo Lula, uma “conversa”, não uma “reunião”. Desde então, porém, a maquininha de dinheiro público começou a girar com mais intensidade. O valor desta semana mais que dobra o que tinha sido liberado na semana passada – R$ 2,4 bilhões. E a soma é 17 vezes maior do que tudo o que havia sido liberado até então pelo governo. O problema agora é saber: adiantará alguma coisa? Mudará algo?
A manhã de quarta-feira (24) começou com o governo tendo de retirar da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado o projeto sobre o DPVAT, com o qual pretendia obter mais R$ 15 bilhões. Começou, portanto, perdendo dinheiro e podendo perder mais com os vetos.
À noite, poderia perder mais com os vetos na pauta do Congresso. É um contrassenso. Porque o mesmo Congresso que pressiona por liberações representa os setores que pressionam por responsabilidade fiscal. De que jeito o governo irá cumprir suas metas?
Lira mira antecessores e teme o ostracismo
Na avaliação de parlamentares do governo que lidam com a articulação política, além dos problemas já conhecidos que tornam complicada a relação entre um governo comandado por um partido de esquerda e um Congresso de perfil bem mais conservador, um outro fator que pesa é a avaliação de Arthur Lira sobre seu próprio futuro após deixar de ser presidente da Câmara. Arthur Lira mira a trajetória de seus antecessores mais recentes e faz de tudo para que seu futuro não seja o mesmo ostracismo. Rodrigo Maia hoje nem mais deputado é. Eduardo Cunha (PL-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP) são deputados, mas sem o mesmo destaque.
Parte do plano de Lira para não cair no ostracismo está em eleger seu sucessor. No caso, poderia fazer parecido com o que fez no Senado Davi Alcolumbre (União-AP): acertou a sucessão de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e se manteve em evidência para voltar depois.
No comando da CCJ do Senado, Alcolumbre seguiu tendo importância. O que lhe garantiu poder pavimentar o caminho para voltar ao cargo de presidente em fevereiro do ano que vem, quando acabar o mandato de Rodrigo Pacheco.
Na Câmara, o “Pacheco” de Lira é Elmar Nascimento. Mas o presidente da Câmara percebe que Lula desde o início do ano vem trabalhando na surdina por um nome alternativo ao favorito de Lira. Mais especificamente, por Antonio Brito (PSD-BA).
Na semana passada, Lira ficou irritado quando o ministro da Casa Civil, Rui Costa, liberou R$ 2,4 bilhões em emendas orçamentárias, mas principalmente para o próprio PT, o MDB e o PSD. Era para azeitar o projeto Antônio Brito.