Publicado por: Bruno Lago | 23 maio 2024
A pesquisa feita com deputados federais pelo instituto Quaest divulgada nesta quarta-feira (22) explicita e torna objetivo em números o problema que todo mundo já sabia que existia na relação entre o governo e o Congresso. De acordo com a pesquisa, 44% dos deputados entrevistados considera ruim essa relação. E Na verdade, a pesquisa é a expressão da complicada escolha que fez o eleitor em 2022: elegeu um governo comandado por um partido de esquerda para tratar com um Congresso conservador, de direita. Mas as faíscas se tornaram maiores com o empoderamento do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Se tal relação já seria difícil, mais complicada ficou com a chancela de Lira para tudo. Na sucessão de Lira, Lula quer mudar. Trabalha por um novo arranjo no qual o governo não fique tão escanteado. Lula quer o próximo comando da Câmara com menos poder.
Ou, pelo menos, que a escolha do sucessor de Lira tenha maior interferência de Lula. E é nisso que o presidente trabalha desde o início do ano, antes mesmo do retorno do Congresso em fevereiro. Foi por saber disso que Lira fez aquele discurso irritado na abertura.
Nem um nem outro têm poder total na escolha
O que parece acontecer desde então é que, neste momento, nem Lira nem Lula têm poder total para definir quem será o próximo presidente da Câmara. Lula tentou trabalhar um nome alternativo. Mas, pelos seus cálculos, ele hoje largaria na disputa tendo em torno de 150 votos. Não conseguiria, assim, ganhar a disputa. Mas nem Lira tem, da mesma forma, o poder que teve quando obteve 464 votos para ser presidente, um recorde na história do Parlamento. Lira já não consegue emplacar seu favorito, Elmar Nascimento (União-BA) como imposição. Elmar só se elegeria com negociação. Que poderá concluir por um outro nome.
No ano passado, quando o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) fez um “ranking do governismo”, o União, liderado por Elmar, votava com o governo em apenas 45% dos casos. Ou seja, mesmo na base, o partido comporta-se como oposição.
Esse é o temor de Lula. Se Elmar se elege presidente da Câmara empoderado como foi Lira, pode talvez até aumentar o tamanho do cacife das apostas na relação com o governo. Se Lira cobra caro pelo apoio, Elmar poderia cobrar ainda mais caro, até pelas características do União.
Produto da união do DEM com o PSL, o União tem um comando dividido. Tão dividido que a briga agora pela presidência foi parar nas páginas policiais. E dividido também quanto à sua relação com o governo Lula, ainda que isso também aconteça em outras siglas.
Finalmente, muito da discussão passa pela Bahia. Que é a terra de Elmar e do maior comandante do União, ACM Neto. Mas é também a terra do líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT), e do ministro da Casa Civil, Rui Costa. Tudo passará pelos interesses baianos.