Publicado por: Rudolfo Lago | 29 maio 2024
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), teve que ceder conseguir aprovar o “imposto chinês”, ou das “blusinhas”, como ficou conhecida a proposta de taxação das importações abaixo de US$ 50, dos produtos, enfim, que são comprados em aplicativos como Shopee ou Shein. Lira acenou com uma redução da alíquota para 25%; a Câmara acabou baixando mais, para 20%. Foi em busca do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para um acordo. E Lula não piscou: seguiu dizendo que sua intenção é vetar a taxação. Lira aprovou o imposto na noite de terça, como defendia. Mas não exatamente como gostaria. Os bastidores da terça-feira (28) mostram que o presidente da Câmara hoje pode muito, mas não pode tudo.
Recente pesquisa do Instituo Quaest entre os deputados já apontava para isso. O Quaest pediu aos deputados que avaliassem os ministros do governo Lula. E o resultado mostra que as afeições de Lira não são exatamente as mesmas dos deputados que ele preside.
Lira já deixou claro várias vezes que detesta o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, o que complica muito a vida do governo. Prefere o ministro da Casa Civil, Rui Costa. Mas a maioria dos deputados não acompanha esse sentimento do presidente da Câmara.
Haddad é o preferido dos deputados. Padilha, o terceiro
Segundo a Quaest, o ministro mais bem avaliado pelos deputados é Fernando Haddad, da Fazenda. Até aí, nada que choque com Lira. Mas a segunda é Simone Tebet, do Planejamento, da qual Lira pouco fala. E o terceiro colocado é Padilha, a quem Lira chamou de “desafeto” e “incompetente”. Padilha tem melhor aprovação que Rui Costa, o preferido de Lira: 29% contra 28%, segundo a pesquisa. Parlamentares governistas avaliam que a pesquisa apontou que talvez haja mesmo possibilidade de Lula não ficar assim tão refém de Lira. Para alguns, à medida que vai acabando o mandato, talvez sua capacidade de influência diminua.
No caso do “imposto chinês”, na tarde de terça-feira o que se comentava na Câmara é que a inusitada aliança do PT de Lula com o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro deixava o Centrão numa saia justa. Os dois partidos eram contrários ao imposto defendido por Lira.
A razão dos dois partidos era um temor de que o apoio ao imposto gerasse impopularidade. As compras desses importados baratos é feita principalmente pela classe média baixa, segmento importante que todos disputam. O Centrão temia pagar a pena pela taxação.
Durante todo o dia, representantes do setor varejista percorriam o Salão Verde tentando convencer deputados sobre a taxação, na linha do que acabou convencendo Arthur Lira: sem o imposto, a concorrência é desleal e pode acabar gerando prejuízos para o país.
Para os varejistas, talvez tenha faltado mais esclarecimento. Prevaleceu o impacto imediato de valor mais alto em um tipo de compra que foi se tornando popular. O que ficava claro era: mesmo Lira não consegue atropelar sempre. Nem tudo o que quer, consegue sempre.