Publicado por: Rudolfo Lago | 31 maio 2024
É curioso que tal declaração venha de um ministro do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Tradicionalmente, a esquerda brasileira, da qual o PT faz parte, aproxima-se politicamente de Getúlio Vargas. Foi Vargas quem imprimiu o processo de industrialização brasileira, depois acelerado no governo Juscelino Kubitschek. Na época, parecia uma vantagem que o Brasil fosse um país “autossuficiente”, capaz de produzir praticamente tudo o que consumia. Ao participar de almoço na tarde de quinta-feira (29) promovido pelo grupo de Líderes Empresariais (Lide) de Brasília, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, deixou subentendido que isso pode ter sido um erro. O Brasil poderia ter, durante um tempo, abandonado a sua vocação econômica.
Segundo ele, após a Segunda Guerra Mundial, os países que mais evoluíram foram aqueles que se concentraram no que seria a sua vocação. E, para ele, a vocação brasileira seria a agropecuária. Não a mera produção de commodities, mas a agroindústria.
Há 50 anos, disse Fávaro, o Brasil era importador de alimentos. A produção agrícola brasileira era de cerca de 27 milhões de hectares. “Era evidente que o Brasil tinha um enorme potencial a explorar para atingir a sua vocação: ser o grande supermercado do mundo”.
Globalização alterou o cenário econômico do mundo
É bem verdade que a globalização alterou o cenário econômico do mundo. A ideia de países autossuficientes acabou. Há hoje uma interdependência entre os países, nos quais todos consomem o que é produzido por todos. Nesse sentido, a ideia do ministro do foco no que seria a vocação. No caso, a vocação pela produção de produtos agrícolas prontos para o consumo. A modernização para entregar alimentados industrializados. Embalados. De alto valor. Atingindo o maior número de mercados consumidores que for possível. Na verdade, é um processo de industrialização que, de certa forma, sai das grandes cidades, e vai para o campo.
E o ministro acrescentou: com respeito ambiental e sem mais desmatamento. Segundo o ministro, a área agricultável do país já é grande o suficiente para essa revolução, sem que se precise desmatar novas áreas. Na verdade, manter as florestas é importante para a produção.
“De nada adianta termos todos os demais ativos e transformarmos o país em um deserto”, defendeu Fávaro. O país precisa de estabilidade climática para sustentar sua agopecuária. “Precisamos preservar o meio ambiente para preservar nossa produção”, pregou.
Em um meio de empresários, Fávaro ouviu diversos elogios ao seu discurso. Na verdade, ele mesmo admitiu que segue o caminho de seus antecessores. Inclusive, rasgou elogios à ministra de Jair Bolsonaro, a senadora Teresa Cristina (União-MS): “Só é pequena na altura”.
“Teresa Cristina é muito competente”, disse ele. Numa linha que não é comum no atual governo, Fávaro disse que encontrou sua pasta arrumada por seus antecessores, o que facilita em parte o seu trabalho. O Correio da Manhã foi Media Partner do almoço do Lide do DF.