Na tarde de quarta-feira (12), o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, estava no cafezinho do Senado. E comentava detalhes do seu “convívio” com o ex-presidente Jair Bolsonaro. “Convívio” vai aqui entre aspas porque, no momento, Valdemar está proibido de conversar com Bolsonaro, conforme determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Mas os dois trabalham diariamente em salas muito próximas, no mesmo andar de um prédio do Plano Piloto, em Brasília, onde fica a sede do PL. E juntos definem as estratégias políticas do partido. Era Dia dos Namorados. Mas o que disse Valdemar no cafezinho estava menos para uma declaração de amor e mais para uma DR sobre a relação do “casal”.
“Ele é diferente da gente”, queixava-se Valdemar, há décadas o pragmático presidente do PL, partido que foi formando alianças ao longo da vida conforme as conveniências. Bolsonaro e seus filhos não escondem a clara posição de extrema-direita e os limites das suas relações.
Isso, segundo Valdemar, muitas vezes complica a montagem das estratégias. “Tem um monte de gente que gostaria de aderir ao PL. Mas ele veta, dizendo: ‘Esse votava contra a gente’. Eu respondo: ‘Votava, mas não vota mais’. Mas às vezes não tem jeito”.
“Convenço uma de cada dez coisas que falo”
“Se vai só pela cabeça dele e dos filhos, a gente fica só com um grupinho que não vai levar a gente a lugar nenhum”, disse Valdemar. O presidente do PL conta que é difícil convencer quanto à necessidade de ampliar além do extremo, conquistando o campo conservador de centro para ter de fato chances eleitorais. Ele consegue convencer, pergunta-se. “Consigo uma de cada dez coisas que eu falo, e, mesmo assim, só depois de falar dez vezes”, responde Valdemar. Segundo ele, nem mesmo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), um dos favoritos para ser o candidato conservador em 2026, merece a confiança.
Tarcísio foi ministro da Infraestrutura de Bolsonaro. Mas, antes disso, foi diretor-executivo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) no governo Dilma Rousseff. “Ele trabalhou com a Dilma”, rebate, segundo Valdemar. “Mas eu já estive com Lula”.
“Eu fui dizer que o Lula é um fenômeno, ele ficou bravo comigo”, comentava Valdemar. “Mas como eu vou falar mal do Lula? Eu dei o vice do Lula”. Nos dois primeiros governos do hoje presidente, o vice de Lula era o empresário e senador pelo PL, José Alencar.
“É um fenômeno, mas agora vai mal, muito mal”, pondera Valdemar sobre Lula. E é por aí que o presidente do PL considera ser possível ampliar as possibilidades de seu partido, atraindo frustrações com o governo do petista. Mas, para isso, tem que convencer o chefe.
A “convivência” entre os dois políticos de perfis diferentes precisa seguir. Porque se Valdemar tem o partido é Bolsonaro quem tem os votos. “Como eu vou abrir mão de alguém que leva 700 mil pessoas na Avenida Paulista?”, comenta ele. Assim, vai seguindo a DR…