Publicado por: Rudolfo Lago | 24 jun 2024
A maior tragédia da polarização política, essa praga que nos atinge, é a sua incapacidade de produzir consensos. O que acaba por matar a democracia na raiz. Pela lógica polarizada, quem é do agronegócio, por exemplo, é contra o meio ambiente. E quem tem preocupações ambientais tem de fugir do agronegócio. Ignora que um agricultor inteligente irá perceber que sem meio ambiente não há agricultura. Do contrário, o agricultor que queima e desmata indiscriminadamente acorda a cada dia iniciando sua rotina dando um tiro no pé. Curioso, portanto, que possa vir do agronegócio, de uma cidade que hoje é uma das maiores produtoras de soja, plantada na Amazônia, um projeto capaz de sugerir o fim da polarização.
Desenvolve-se na cidade de Sinop, no Mato Grosso, um projeto em parceria do Fórum do Futuro com a Embrapa que visa transformar a cidade no primeiro município brasileiro totalmente movido a biocombustível. Tendo a soja como matéria-prima de muitos usos.
O Mato Grosso é o maior produtor de soja do país, e Sinop uma das cidades que tem o maior plantio. A ideia do projeto é deixar de fazer com que isso seja somente um estigma ambiental, aproveitando da soja outras possibilidades. E tornando a cidade também polo tecnológico.
Projeto quer tornar Sinop polo sustentável
Além da possibilidade de uso total do biocombustível derivado de soja em caminhões, automóveis e outros veículos, o projeto também estuda o uso de placas de poliuretano vegetal como base na construção civil. E outras ideias que avancem numa aliança entre a ciência e o agronegócio para tornar mais e mais a produção sustentável e dali encontrar soluções ambientais que possam vir a ser replicadas em outras cidades de outras regiões. Gerando ali polos científicos e tecnológicos que ultrapassem a mera visão de município essencialmente agrícola. O Fórum do Futuro é uma ideia do ex-ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli.
Morto em 2023, Alysson Paolinelli, embora tenha sido ministro da Agricultura no momento mais duro da ditadura militar, em 1974, Paolinelli foi sempre respeitado por suas posições. Fundou a Embrapa e sempre teve como foco o avanço tecnológico da agricultura.
Foi ele, por exemplo, que criou também o Pró-Álcool, que desenvolveu um combustível alternativo à gasolina e ao diesel em plena crise do petróleo. Se o Brasil tivesse apostado mais nessa matriz, sem retornar ao petróleo no governo Fernando Collor, onde estaria hoje?
A ideia do Fórum do Futuro é que o Brasil possui a mais avançada ciência tropical do mundo, mas a utiliza muito pouco de forma prática, justamente por um descolamento entre a produção científica e a agrícola ou industrial. O que se pesquisa não chega à ponta.
Estudo da Embrapa aponta a existência de 4,5 milhões de endereços agrícolas sem acesso a gestão e ciência. Do meio da Amazônia, portanto, onde hoje se produz soja, o projeto propõe essa aliança. É passível de críticas? Talvez. Mas vale acompanhar.