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Lavareda relativiza polarização

Publicado por: Rudolfo Lago | 5 ago 2024

Ao analisar os dados da última pesquisa da Quaest em São Paulo, o cientista político Antonio Lavareda, presidente do Instituto de Pesquisas Sociais Políticas e Econômicas (Ipespe), faz uma observação em conversa com o Correio Político: “Isso contradiz a tese da polarização calcificada”. Parece uma provocação entre colegas. O presidente do Instituto Quaest, Felipe Nunes, tem reforçado essa ideia, cerne inclusive do livro que escreveu com o jornalista Thomas Traumann, “Biografia do Abismo”. Para Lavareda, dá-se no Brasil um valor exagerado à ideia da polarização e de uma disputa acirrada entre a direita representada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e a esquerda defendida pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Independentes

Como apontamos aqui na semana passada, um dos dados mais interessantes nas entrelinhas da pesquisa é a rejeição de boa parte dos eleitores ao apadrinhamento dos candidatos a prefeito. Mais da metade, 51%, quer um prefeito que seja “independente”.

Datena e Pablo

E isso pode explicar a ascensão de José Luiz Datena (PSDB) e Pablo Marçal (PRTB). Dos nomes na disputa pela prefeitura de São Paulo, são os dois menos identificados com os padrinhos que dividiriam as paixões políticas brasileiras, Bolsonaro e Lula. E se beneficiam disso.

“Tese importada dos EUA não se aplica aqui”

Para Lavareda, a polarização calcificada é uma tese importada dos Estados Unidos, onde, de fato, a disputa sempre foi apenas entre dois grupos políticos, algo que se intensificou com a guinada dos Republicanos para a extrema-direita com Donald Trump. “Por aqui, a tal polarização é um construto de agregados”, afirma Lavareda. Primeiro, segundo ele, é preciso sair do dado nacional da última eleição, quando Lula venceu Bolsonaro por margem reduzida de votos e descer aos municípios. “Em dois terços das cidades, a diferença de Lula para Bolsonaro ou de Bolsonaro para Lula foi de mais de 20%”. Não era, então, polarização acirrada.

Incumbente

Lavareda segue, então, certo de que o que move as disputas municipais ainda é a avaliação que se faz da própria administração do município e dos seus problemas. “O ponto central na disputa municipal é o incumbente [o governante que disputa novo mandato]”.

Central

“O ponto central é se o incumbente está ou não na disputa. E qual a avaliação que o eleitor tem do incumbente”, afirma Lavareda. “Se o candidato é apoiado por A ou B no plano nacional essa, nas disputas municipais, é uma questão secundária”, avalia Lavareda.

Nunes

No caso de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), o “incumbente” era, na verdade, vice de Bruno Covas, que faleceu vítima de um câncer. “Assim, ele não tem uma avaliação consolidada e, por isso, foi em busca da atração de um padrinho nacional, no caso, Bolsonaro”, explica.

Prós e contras

“No caso, com os prós e os contras”, observa Lavareda, já que o apoio de Bolsonaro ajuda Nunes por um lado e o atrapalha por outro. Ricardo Nunes vai experimentando a dor a e a delícia de colar sua imagem à do ex-presidente, oscilando quanto à profundidade.

Rudolfo Lago