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A Venezuela e os planos do Brasil

Publicado por: Rudolfo Lago | 26 jul 2024

Uma das primeiras mudanças feitas pelo governo Lula no Ministério de Relações Exteriores foi recriar a Secretaria da América Latina. No governo Jair Bolsonaro, tudo tinha ficado unido na Secretaria das Américas. Mudança importante dentro do diagnóstico feito pela equipe de transição. O modelo anterior claramente ia na direção de fortalecer relação centro no continente americano com os Estados Unidos. A mudança vai na linha do retorno na aposta do multilateralismo e na produção de relações que fortaleçam novos blocos. Por aqui, o Mercosul. Em termos mais globais, o fortalecimento do bloco do Sul do planeta, com os Brics. Especialmente na América do Sul, como maior nação, o Brasil exerce papel de liderança.

Futuro

Nesse sentido, o que acontecerá no domingo (28) na Venezuela é fundamental para o futuro. Na estratégia adotada, a ideia era escapar da divisão entre democracias e autocracias, adotando postura mais pragmática. Mas, agora, isso pode ficar complicado de se manter.

Desafio

Se houver uma situação na qual Nicolás Maduro reaja violentamente a uma derrota, ou se ele vencer com suspeita de fraude ou contestação, o clima na Venezuela pode ficar muito complicado. Pode gerar intervenções de outros países, e contaminar o continente.

Situação isola países e dificulta formação de blocos

Para o Brasil, quanto mais forte o Mercosul melhor para a sua estratégia internacional pela posição de liderança. E esse é o problema. A Venezuela deixou de fazer parte do Mercosul por contestações que envolviam a democracia no país. O Brasil defende o retorno da Venezuela para fortalecer o bloco. Mas isso não acontecerá se a democracia se enfraquecer lá ao final do processo e crescer a ideia de que se trata de uma autocracia. Complica ainda a situação a posição de Javier Milei na Argentina. O autoproclamado “anarcocapitalista” não morre de amores do bloco econômico, até porque não morre de amores a nenhum tipo de aliança.

Pressão

O problema para o Brasil é trazer para o continente pressões que virão de fora caso não prevaleça a democracia na Venezuela. No meio da disputa entre Donald Trump e Kamala Harris nos EUA, é inevitável que não venha uma pressão norte-americana, até por razões políticas.

Brics

Pressão que pode atrapalhar outros planos. Na linha pragmática, o Brasil defendeu a entrada do Irã e outros países do Oriente Médio que estão longe de ser democráticos. É evidente que o Norte do planeta não quer o Sul mais forte. E baterá nos regimes autocráticos.

China

No caso do Brics, cresce a força da China, onde está o banco do bloco, agora presidido por Dilma Rousseff. A China tenta implantar o que chama de “Nova Rota da Seda”, estabelecendo relações de comércio pelos países do Sul, passando por África e Américas.

Confusão

Nada disso vai na linha dos interesses do Norte. Que tudo fará para que nada disso aconteça. Nesse sentido, confusão por aqui é tudo o que vão querer. Um rolo na Venezuela, importante produtor de petróleo, tem esse potencial. É tudo que não queremos.

Rudolfo Lago