Publicado por: Rudolfo Lago | 29 ago 2024
Somente pouco antes de anunciar oficialmente que o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, é o nome indicado para suceder o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, entrou em contato com o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Vanderlan Cardoso, para comunicar que faria a indicação. O fato foi encarado como uma descortesia. Há liturgias que precisam ser cumpridas. O presidente do Banco Central só assume se aprovado pelo Senado, que o sabatina. O palco disso é a CAE. Como já tínhamos contado aqui no Correio Político, a eventual pressa na indicação do sucessor de Campos Neto poderia ser novo fator gerador de crise.
O único que já tinha sido previamente consultado sobre o timing da escolha de Galípolo, foi o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), numa conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E Pacheco disse a ele que não tentasse apressar a escolha.
Na conversa com Vanderlan Cardoso, Haddad chegou a sugerir que a sabatina de Galípolo acontecesse já na próxima terça-feira, 3 de setembro. “Impossível”, respondeu Vanderlan. O tiro no pé com a correria seria tão grande que Galípolo poderia acabar reprovado.
No mínimo, processo vai levar de 20 a 30 dias
De novo, lembrou-se ao governo que há uma liturgia que precisa ser respeitada. Os senadores é que são os donos da palavra final sobre escolhas como a do presidente do Banco Central. Isso é definido pela Constituição. Por maior boa vontade que se tivesse com Galípolo, os senadores não aceitariam ser mero ratificadores da escolha. Eles precisam do rito. Precisam da liturgia. Que lhes dá poder e prestígio. O famoso beija-mão, no qual o indicado vai de gabinete a gabinete, conversa com cada um dos senadores, humildemente. Vanderlan disse, então, a Haddad: no mínimo, a sabatina só poderia ser marcada para daqui a 20 ou 30 dias.
No Senado, ficou a impressão de que a pressa pretendia uma sinalização: que Galípolo já estivesse aprovado como próximo presidente do BC na próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom). Iria como uma espécie de presidente do BC virtual.
Seria, no caso, uma forma talvez de o governo conter a possibilidade de uma alta na taxa de juros. A previsão já é de que pelo menos a taxa Selic se mantenha no mesmo patamar. O Senado, no entanto, não estaria tão facilmente disposto a entrar nesse jogo.
Se o mercado viesse a interpretar que a intenção do governo fosse apressar numa estratégia política para temperar a taxa de juros, numa pressão para uma análise não técnica, isso poderia provocar reações negativas a alguém que o mercado vê com bons olhos.
O anúncio da escolha produziu alta na bolsa e outros efeitos positivos. Porque a escolha já era esperada e precificada pelo mercado. Galípolo é oriundo do próprio. O problema, assim, não seria o nome em si, mas a pressa, ferindo rituais e prerrogativas.