Durante anos, a direita tradicional brasileira gostava de dizer que a esquerda não se une. “Só se une na cadeia…”, gostavam de dizer na época da ditadura militar. Curioso é que, agora, quem parece não se unir é a direita. Pelo menos é o que se depreende da disputa municipal em São Paulo. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e Pablo Marçal (PRTB) disputam os votos dos conservadores. No momento, a julgar pelos números da pesquisa Atlas divulgada na segunda-feira, rigorosamente divididos: os dois com 20,9%. O cientista político André Cesar, considera que há no Brasil hoje “duas direitas”. A direita que se unia é a tradicional, pragmática. A nova direita, considera André, é muito mais ideológica, “faz política com o fígado”.
É, avalia André, uma grande novidade no quadro político brasileiro. Até então, a direita dominava a elite política do país. E se unia ao centro para manter o poder. Era a lógica de estabilidade do PSD pré-64, que no começo da redemocratização o MDB herdou.
A nova direita se declara “anti-sistema”, Mas, seguindo a linha de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, como comentamos na segunda-feira, no fundo é uma forte reação da elite de direita aos riscos que vê de perda de poder na ascensão de uma democracia multirracial.
Situação em São Paulo extrapola para o país?
André Cesar observa que a divisão da direita em São Paulo não extrapolou para as demais disputas no país. Mas um dado objetivo é que são os candidatos mais de centro, ou relacionados com a direita tradicional, os que lideram hoje na maioria das capitais. “A partir do resultado das eleições, haverá um novo corte”, considera André Cesar. Que poderá mesmo tender a um fim da atual polarização. “Eu tendo a apostar minhas fichas no PSD”, comenta ele. Na sua avaliação, poderá haver um novo quadro que coloque o PSD como fiel da balança. Que até pode acabar pendendo para a escolha dos nomes polarizados. Mas na escolha do centro.
No caso específico de São Paulo, André considera que Pablo Marçal bateu em seu teto. E como tem uma rejeição muito forte, sua tendência será cair. Projetando um segundo turno entre Nunes e Giulherme Boulos (Psol). “Aí, o favorito é Nunes”, conclui.
E, no caso, será bem pequena a influência de fato de Bolsonaro nesse processo. Nunes não vencerá exatamente pelo seu apoio. No fundo, mesmo com o apoio declarado de Bolsonaro, a eventual vitória de Nunes será a confirmação da opção do eleitor pelo centro.
“A chance de Boulos parece ser Marçal passar para o segundo turno”, observa André Cesar. “Porque aí é talvez uma rejeição maior que a dele, somada à tentativa de Boulos de moderar seu discurso”, considera. “Mas não acho que isso irá acontecer”, conclui o cientista político.
“São Paulo é retrato importante do país”, considera o cientista político. “É uma espécie de microcosmo”. É, entr4e outras coisas, a cidade mais nordestina do país. Além da importância econômica. Outras disputas municipais acabam sendo mais locais.