Publicado por: Rudolfo Lago | 27 set 2024
Em entrevista nesta quinta-feira (26) ao jornal SP1, da TV Globo, o candidato do Psol à prefeitura de São Paulo, deputado Guilherme Boulos, não teve dúvidas em chamar o governo da Venezuela de Nicolás Maduro de “ditadura”. Boulos disse que é “lógico” o caráter ditatorial de um governo que “persegue opositor” e “faz eleição sem transparência”. Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva posa de chefe de Estado na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York, a declaração de Boulos é um importante adicional à saia justa que ele já vem fazendo. Claramente, Boulos e o Psol estão posicionados mais à esquerda que o PT. Boulos faz a declaração que Lula hesita em fazer, e ajuda a aumentar seu isolamento.
Boulos está disputando a prefeitura da maior cidade do país. Não fez a declaração apenas porque essa é a sua opinião. Certamente houve quanto a isso algum cálculo sobre o efeito eleitoral de tal declaração. Apoiar a Venezuela não parece ser bom negócio.
Boulos, assim, coloca-se um passo à frente de Lula, que disse ser a Venezuela um regime a essa altura “desagradável”. O problema desse alinhamento é que, no atual grau de alta polarização política, tal posicionamento permite ataques desgastantes da direita.
Maior que o desgaste interno é o internacional
O risco da posição dúbia de Lula sobre a Venezuela é, porém, menos o desgaste interno e mais o risco à posição que o presidente brasileiro cultiva de importante líder mundial de esquerda. Na quarta-feira (25), o presidente do Chile, Gabriel Boric, tocou forte na ferida em um evento do qual participaram outros chefes de Estado como Emmanuel Macron, da França; Justin Trudeau, do Canadá, e Xanana Gusmão, do Timor-Leste. Boric disse que “a venezualização das nossas políticas internas causou prejuízo muito grande às esquerdas”. Ninguém pode desconsiderar o ex-líder estudantil chileno como alguém identificado com a esquerda.
Se Maduro resolve seguir na sua balada antidemocrática, não é preciso que todo o restante da esquerda sul-americana se arraste para o buraco com ele. É nessa linha que sugere Boric. São governos eleitos democraticamente e comprometidos com a democracia.
Já ficou claro que Maduro não apresentará as atas que comprovariam a sua eleição. Até porque a desconfiança é que tais atas comprovariam justamente o contrário. Enquanto isso, ele endurece seu governo, persegue e prende seus opositores para não ser contestado.
Em sua coluna no Congresso em Foco, a jornalista Lydia Medeiros menciona uma pesquisa que foi feita pelo Pew Research Center com 5.180 pessoas dos países da América Latina. Ela mostra certo grau de desconfiança em Lula como líder do continente.
É justamente no Chile de Boric a maior desconfiança. Para 62% dos chilenos entrevistados, Lula não estaria fazendo “a coisa certa” em relação aos assuntos mundiais. Na média, a confiança no Brasil é de 49%. Mas há desconfiança alta também em outros países.