O livro “Como as Democracias Morrem”, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, tornou-se um guia fundamental para o entendimento destes estranhos tempos, quando as democracias do planeta vêm sendo ameaçadas por ações de autocratas que tentam corroê-las de dentro para fora. Levitsky e Ziblatt retornam agora ao tema com seu novo livro, “Como Salvar a Democracia”. Se no primeiro diagnosticavam o problema, neste agora lançam caminhos de preservação do sistema que, como disse Winston Churchill, é “a pior forma de governo, com exceção de todas as outras”. A edição brasileira traz um adicional preciosíssimo para o entendimento deste problema no solo tupiniquim: um prefácio comparando Brasil e Estados Unidos.
E Levitsky e Ziblatt constatam que nós, brasileiros, teríamos ido melhor nas estratégias de preservação da nossa democracia do que os Estados Unidos na tentativa de preservação da democracia deles. Aqui, a elite política teria se unido de forma mais firme para preservá-la.
Houve muita semelhança, apontam os autores do livro, entre o que se tentou no Brasil e nos EUA. Da mesma forma, Donald Trump e Jair Bolsonaro trataram de questionar fortemente o processo eleitoral e seus resultados. Da mesma forma, incitaram ações violentas.
Elites isolaram Bolsonaro. O que não houve com Trump
O ponto agudo das duas tentativas de corrosão da democracia foram, nos EUA, a invasão do Capitólio e, no Brasil, a invasão dos prédios dos três poderes. E, a partir daí, Levitsky e Ziblatt começam a enxergar as diferenças. Nos EUA, o partido Republicano seguiu a convivência com Trump, não condenou o episódio, evitou que ele sofresse punições e o aceitou como candidato – aliás, candidato muito competitivo – para disputar novamente as eleições presidenciais deste ano. Aqui, expoentes do campo conservador brasileiro aceitaram o resultado da eleição e condenaram os atos de 8 de janeiro de 2023. Bolsonaro tornou-se inelegível.
“Donald Trump continua sendo uma ameaça iminente à democracia americana”, escrevem Levitsky e Ziblatt no prefácio. “Já no Brasil, Jair Bolsonaro vem sendo politicamente marginalizado”. O quadro das eleições nas capitais talvez seja uma evidência disso.
Como mostra o quadro publicado na edição desta segunda-feira (23) do Correio da Manhã, os eleitores parecem ter abandonado na maioria dos lugares a ideia da polarização política que dominou o país nos últimos anos, optando por candidatos mais ao centro.
Levitsky e Ziblatt apontam uma diferença como chave. Os EUA estariam próximos de virar uma democracia multirracial, deixando de ser um jogo somente da elite branca. O Brasil ainda não experimenta isso. Aqui, o poder é ainda majoritariamente branco e masculino.
Barak Obama já foi um primeiro presidente negro. E Kamala Harris, além de negra e filha de imigrantes, pode se tornar a primeira mulher no poder. O movimento de Trump e dos republicanos é uma forte reação da elite branca a tal possibilidade. O futuro dirá.