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Mundo sem fronteiras: da utopia à distopia

Publicado por: Rudolfo Lago | 20 set 2024

Durante muito tempo, a ideia de um mundo sem fronteiras foi uma utopia, especialmente dos comunistas. A ideia de que “trabalhadores do mundo inteiro” se uniriam criando um planeta justo e igual. Nesta metade do século 21, o mundo sem fronteiras vai virando uma realidade bem distante da utopia socialista. Mas, ao contrário, numa distopia. Na qual as fronteiras parecem não mais conter ameaças absurdas. No extremo, temos aí o crime se tornando transnacional. Mas também essa impressionante briga do bilionário Elon Musk com o ministro Alexandre de Moraes passa por esse mesmo desafio de manutenção das fronteiras e das leis de cada país. Certo ou errado, Musk tem um conceito de liberdade de expressão que não condiz com as leis brasileiras.

Desafio

Aliás, não condiz também com as leis de diversos outros países. Mas o mundo de hoje desafia a possibilidade de manutenção desses limites. Cada vez mais, aceitamos entregar nossas vidas a algo intangível e sem controle, movido sabe-se lá por quais regras e interesses.

Propriedade

Há alguns anos, uma crítica comum da esquerda era que a propriedade dos meios de comunicação era concentrada nas mãos de menos de meia dúzia de famílias brasileiras. Agora, estamos aceitando passivamente que três ou quatro pessoas no mundo os dominem.

No fim, o risco é à democracia

Para o advogado e analista político Melillo Dinis, no fim o risco disso tudo é à democracia. “O modelo de Musk, e de tantos deste universo, é mesmo autoritário”, observa Melillo. “E a verdade é que essas plataformas não vêem necessidade de cumprir regras”. Como consideram que não precisam, vão desafiando os limites, como crianças superpoderosas. Para Melillo, para muito além da ideia originária socialista do mundo sem fronteiras, a globalização foi tornando isso uma realidade, mas por um caminho muito diferente. “A grande realização da globalização é o mundo digital”, considera o analista. “A privatização global da comunicação”.

Comunidades

“É um paradoxo, no qual temos comunicação sem comunidades e comunidades sem comunicação”, considera Melillo. No fundo, mais do que unir, as plataformas separam as pessoas, porque desestimulam o debate, a troca de ideias diversas, qualquer conversa educada.

Algoritmos

Os famosos “algoritmos” tratam de aproximar somente aqueles que pensam da mesma forma. Quando a plataforma percebe a linha de pensamento da pessoa, só a alimenta com o mesmo tipo de informação, impedindo o acesso ao que é diferente.

Confirmação

É a troca da “era da informação” do século passado por uma “era da confirmação”. Ninguém parece buscar assuntos para se informar, mas somente para confirmar o que já pensa. E quando esbarra em algo que contesta o seu senso comum, reage duramente.

Negócio

O que torna tudo ainda mais complicado é que as redes sociais são negócios privados. Musk e outros terão suas ideologias. Mas são de fato essas ideologias, como Musk afirma, que movem os seus propósitos? Ou será a possibilidade de mais e mais ganhar dinheiro?

Rudolfo Lago