Publicado por: Rudolfo Lago | 12 set 2024
Na reunião de líderes nesta quarta-feira (11), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), manifestou seu apoio ao líder do Republicanos, Hugo Motta (PB), para sucedê-lo no comando no ano que vem. Sem dúvida, é um passo importante para Motta, mas que pode a essa altura se transformar em uma armadilha. Motta pretendia ser alçado a uma condição de candidato do consenso. Esse consenso, porém, não aconteceu, diante do pacto do União Brasil com o PSD que manteve as candidaturas dos líderes dos dois partidos, respectivamente Elmar Nascimento (BA) e Antônio Brito (BA). A manutenção dos dois no páreo transformou o governo em fiel da balança. O risco para Motta é o governo demorar a se definir.
Essa demora é uma possibilidade. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já declarou que o governo não deve interferir na disputa da Câmara. Mas qualquer pombo na Praça dos Três Poderes sabe que, ao contrário, o governo interfere no jogo, e muito.
Se Lula e o governo demoram para definir quem apoiarão, e Motta começa a fechar costuras pela direita, o grande risco a essa altura para ele é ficar marcado como o nome desse grupo. Uma situação que pode acabar por enfraquecê-lo na hora de negociar com o governo.
União e PSD trabalham para se aproximar do governo
Como contávamos aqui na coluna de quarta-feira, o acerto do União com o PSD visa buscar o apoio do governo e do PT para as candidaturas de Elmar Nascimento ou de Antônio Brito, vista que não terão o apoio de Arthur Lira. Com o Centrão rachado, ficam governo e PT como fieis da balança. E aí ser o nome da direita fechando compromissos com esse grupo pode virar uma armadilha para Hugo Motta. Porque a ala mais à direita da Câmara não quer construir consensos. Alguns compromissos que Motta agora vem sendo pressionado a fechar podem se voltar contra ele ao negociar a benção do governo. O maior deles seria com a anistia ao 8 de janeiro.
Os mesmos pombos que sabem que o governo não é neutro na disputa pela Câmara sabem que, no fundo, o que se deseja mesmo é pavimentar uma anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), criando uma situação que o recoloque no páreo em 2026.
Se tiver condições de orientar um outro caminho, Lula certamente não irá ajudar a pavimentar a possibilidade de aprovação da tal anistia e um recrudescimento à direita. E a indefinição agora na sucessão de Arthur Lira dá agora a Lula a chance de orientar outro caminho.
Não foi por acaso, portanto, que o União Brasil apoiou na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) o adiamento da discussão sobre a anistia para depois das eleições municipais. Ninguém quer agora se comprometer com o que seria um tiro no escuro.
Tudo o que Lula não quer é seguir sendo refém como é sob o comando de Lira. O próximo presidente da Câmara não terá somente a questão da anistia para decidir. É ele também quem põe para andar ou não eventuais pedidos de impeachment.