Não foi criada uma nova patente no bravo Corpo de Bombeiros Militar, no qual a mais alta ainda é a de Coronel, mas o que houve foi a apropriação de dois termos militares para definir – ou tentar descrever – um novo personagem da história contemporânea brasileira com intensa atividade em Brasília. Antes, porém, vale esclarecer que a patente de General é exclusiva das Forças Armadas, em especial, do Exército Brasileiro. Digo “em especial” porque há Oficiais-Generais também na Marinha e na Aeronáutica. São eles os chamados generais de cinco estrelas como é o caso do Almirante e do Brigadeiro. Nestes últimos tempos, na capital federal e centro do poder, generais de 3 e 4 estrelas são mais vistos e cotados para os principais postos de comando da nação. O que não se sabia até pouco tempo era que estes generais passariam a serem vistos – também – como “bombeiros”. Não se assuste porque se não há generais no Corpo de Bombeiros, segundo alguns jornalistas que circulam ansiosos por informação em Brasília, há sim o de “bombeiro” com patente de general. Eles estão, estrategicamente, posicionados em postos-chave da República e são acionados quando a temperatura aumenta por aqui. Nos últimos dias, inclusive, o calor ficou tão forte que eles trabalharam como nunca para evitar que as “chamas do poder” chamuscassem o “Capitão Comandante”. A atuação destes bravos combatentes pela manutenção da democracia tem sido tão intensa que ganhou o termo que descreve bem esse novo personagem da política nacional: o General Bombeiro.
Nestes últimos meses, estes guerreiros atuaram fortemente para consertar deslizes e derrapadas de quem ainda não entendeu que a nobre missão conferida de chefiar uma nação não deve se transformar em uma constante tentativa de medir o quanto aguenta esta jovem balzaquiana democracia brasileira. Não se sabe ao certo se ele não entendeu ou se, simplesmente, abusa dos limites por saber que conta com uma tropa experiente e prudente ao lado. O temor é até quando o Pelotão Contra Incêndio vai dar conta das imensas labaredas em terra tão seca e de fácil propagação como do “deserto central do Brasil”. Na última semana, então, o trabalho foi diário e também noturno. Afinal, há alguns incêndios na capital do país que para serem apagados é necessário chamar a “Brigada Civil de Combate ao Fogo” para ajudar. Eles atuam em apoio aos “generais bombeiros” e costumam trabalhar durante as noites e até nas madrugadas brasilienses enquanto muitos militares dormem. Essa brigada é formada por civis e, em geral, composta por parlamentares e nomeados de postos-chave da República, que entre um telefonema ou mensagens de Wathsapp, tentam convencer os atingidos pelo lança-chamas do capitão a não revidarem quando o dia amanhecer. Normalmente, eles têm tido muito sucesso mas só conseguem aplacar a ira causada pelos incêndios porque existe um bem organizado trabalho continuado pelo Pelotão Contra Incêndio durante o dia. Funciona como uma engrenagem bem articulada daqueles que não desejam o fim – ou mesmo a interrupção – da democracia. Eles trabalham sintonizados em ações bem coordenadas de combate ao fogo no Planalto Central.
Essa tropa em defesa da democracia não deseja que incêndios coloquem em risco a possibilidade surgida há tão pouco tempo de mudar uma imagem chamuscada pela ditadura. Os chamados “anos de chumbo” fizeram com que muitos generais de agora, quando ainda eram capitães, majores, tenentes-coronéis e até coronéis, passassem por constrangedores momentos familiares em que eram acusados de terem sido responsáveis por um “triste momento da história do Brasil”. Não que eles achassem que essas acusações eram verdadeiras ou concordassem com elas, mas pensavam em como seria bom se tivessem a oportunidade de novamente voltar ao poder e de forma democrática. Entre eles, a conversa tomava ares de sonhos utópicos nos quais teriam a oportunidade de fazer tudo diferente e mostrar aos chatos da família que o que tinham feito era por ser aquele um tempo difícil do país, mas se tivessem a chance de voltar que fariam diferente. Porém, eles não viam como chegar a esse momento até que um certo capitão, que não seguiu ao lado deles nestes anos que amargavam as reclamações em família, apareceu com condições reais de dar lhes a chance desse retorno. Sem pensar duas vezes e cumprindo a missão constitucional que os conduziu desde aqueles longínquos tempos de Resende, desembarcaram em novos tempos de Brasília. O que eles não sabiam, ou pelo menos não esperavam, é que depois de anos e com patentes bem mais altas, teriam de assumir um novo papel para poder fazer diferente e calar aos que sempre os acusaram de usurpadores das liberdades.
É muito importante lembrar que os “generais bombeiros” não querem retrocessos democráticos seja pelo lado que vier. Não admitem que lancem chamas contra as instituições legítimas que fazem o contrapeso da democracia no Brasil – leia se Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal – como também não aceitam que estas mesmas instituições lancem fogo contra quem comanda a nação – leia se Presidência da República. São “bombeiros” com um dever constitucional de proteger as instituições a ponto de não deixar que elas mesmas se destruam na constante guerra pela permanência e ascensão ao poder. Eles estão atentos para que a missão de resgatar a imagem distorcida não seja interrompida por nenhum dos lados. Eles trabalham para que cheguem ao fim desta missão com uma imagem bem diferente – que desejam ser melhor – do que daquela que alguns de seus parentes ainda insistem em lembrar. Afinal, já diz a frase de uma tropa de elite que se tornou popular: Missão dada é missão cumprida! Só que não precisava ser tão difícil e intensa como foi nesta última semana. Vamos relembrar alguns dos incêndios apagados, só nestes últimos dias, pelos bravos combatentes.
No domingo, o Presidente da República decidiu participar de uma manifestação do Dia do Exército, em frente ao Quartel General, e essa aparição seguida de falas – sempre – contundentes acionou a tropa de elite dos combates aos incêndios do poder. No final de tarde daquele mesmo domingo, integrantes do “Corpo de Generais Bombeiros” com mangueiras de argumentos e baldes de bom senso, convenceram o capitão de que era necessário falar diferente no dia seguinte para consertar o estrago feito. Se isso não acontecesse, os bombeiros já imaginavam o próximo natal em família com os mesmos chatos dos últimos anos e as mesmas difamações das últimas décadas. Essa visão para alguns ‘bombeiros” é insuportável até de ser imaginada. Por isso, insistiram no tom de conciliação e voltaram para casa com a certeza de que o pior foco do incêndio tinha sido apagado. Porém, eles sabiam que pequenas chamas ainda acesas poderiam deflagrar novas e fortes labaredas no início desta semana. Para acabar de vez com o incêndio, eles chamaram a “Brigada Civil de Combate” para entrar em ação e acalmar os que pretendiam levar o fogo para dentro do Congresso Nacional e chamuscar de vez a democracia. O trabalho foi feito em conjunto e deu resultados. Nesta segunda-feira, o presidente declarou veementemente ser a favor da democracia e das liberdades e impediu que o fogo se alastrasse entre os parlamentares.
Em uma semana marcada por um feriado já na terça, os bombeiros imaginaram que o pior tinha passado e que o principal foco do incêndio estava definitivamente apagado. Porém, os incêndios políticos em Brasília ressurgem de pequenas fagulhas que ninguém daria valor. Não é que em pleno feriado de Tiradentes, um mártir reverenciado por muitos militares, um novo foco começou. Dessa vez, os bombeiros foram acionados para apagar um princípio de fogo no Ministério da Saúde, onde o novo ocupante da Pasta não faz a menor ideia de como funciona o sistema que faz mover a máquina pública e lembro que em Brasília, o sistema é bruto! Para evitar um novo foco de incêndio, um “bombeiro” foi chamado do Amazonas para ajudar no combate. A missão dele, como Comandante do Grupamento de Selva, será aplainar o terreno para que o novo ministro não seja engolido por jacarés agressivos ou picado por cobras peçonhentas que habitam a região pantanosa do poder federal mais conhecida como Esplanada dos Ministérios. Se nem com um feriado na semana foi possível diminuir a velocidade com que as chamas se espalham por Brasília, o jeito foi chamar de novo os “bombeiros” para voltarem a agir. Foi, então, que um experiente “bombeiro” de 4 estrelas deu a ideia de que fosse enviada uma carta ao presidente do Supremo Tribunal Federal para desdizer o que já tinha sido dito. Se ficou confuso pra entender, imagina para quem teve a missão de escrever o que quem havia dito não queria nem de longe ver escrito. Apesar da dificuldade de momento, a situação de risco foi vencida e as chamas que já cresciam na praça que divide – e prometia incendiar – os Três Poderes foram debeladas mais uma vez.
Como se não bastasse, nesta quarta-feira, um novo foco começou em uma reunião para definir medidas de combate ao incêndio que promete destruir a economia nacional. Para tratar do assunto e achar as opções para vencer esse outro grande foco foram convocados ao Palácio do Planalto todos que compõem o governo, inclusive e principalmente os “bombeiros”. A reunião tinha tanta gente que até quem não faz parte diretamente das decisões, como o governador do Distrito Federal, estava presente. Se ao final tinha governador sentado no lugar de ministro, o da Economia sentiu cheiro de fumaça e preferiu ir embora. Nessa hora, um novo foco começava vindo de uma faísca iniciada com a diferença de posicionamentos econômicos sobre como deveria ser realizado o combate aos incêndios na economia. Mais uma vez, os “bombeiros” foram chamados para controlar o fogo. O foco principal está no recém lançado Pró Brasil, um programa de investimentos para tirar o país da crise econômica dada como certa após a pandemia da COVID-19. Parte dos “generais bombeiros” foram apagar o fogo entre os próprios colegas de Pelotão Contra Incêndio porque o fogo se alastrava para dentro do quartel deles. Isso aconteceu porque uma parte defende o combate com investimentos públicos, ou do governo, enquanto a outra quer parte um plano com investimentos privados, ou seja, vindos das empresas e companhias multinacionais com interesses no Brasil. Nesse incêndio, o foco ainda não foi combatido e são esperadas fortes labaredas com alto poder de propagação nos próximos dias em Brasília.
Se a onda de incêndios, em menos de uma semana já foi imensa, a expectativa é ainda de muito trabalho para os “bombeiros” do pelotão na linha de frente do combate ao fogo. Isso porque um outro foco – também como outros em Brasília nestes últimos dias – tem grande chance de propagar e destruir até o quartel dos bombeiros. É que o lança-chamas do capitão foi ligado, novamente nesta quinta-feira, e quase queimou o ministro da Justiça. Contrariado com a decisão do Presidente da República trocar o comando na Polícia Federal, ele decidiu arrumar as malas e deixar o governo. Mais uma vez, os “generais bombeiros” foram chamados para entrar em ação e tentar apagar o incêndio. Em uma semana tão incendiária, na qual lembro que ainda tem a sexta e quiçá o sábado para algo novo acontecer, o que mais se perguntam pelos corredores do poder é até quando os “bombeiros” vão dar conta de combater focos constantes de destruição da boa imagem que pretendem construir no atual governo ou se alguém vai conseguir esconder do capitão esse lança-chamas. Quem sabe assim, ele desistiria dessa mania de ligar o equipamento para testar mais uma vez a resistência da democracia achando que os ‘bombeiros” estarão sempre de prontidão para apagar seus incêndios. Já corre pela Rádio Corredor do Planalto a informação de que alguns demonstram cansaço e há até quem diga que eles já avaliam se não seria melhor aguentar os chatos da família do que serem consumidos pelo “fogo amigo” da Capital do Poder… será?