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COMO SEREMOS DEPOIS?

Publicado por: Alexandre Jardim | 7 abr 2020

A pergunta que mais se houve em tempos de COVID-19 é: Como seremos depois que tudo isso passar? Esse questionamento projeta, no mínimo, mais cinco outros que não tenho a pretensão de responder mas que trago aqui para uma reflexão conjunta. A primeira pergunta que surge desse grande questionamento é: Como ficará a Economia?; a segunda: Como será a Política?; a terceira: Como se darão as relações entre os países?; quarta: Como ficará o comportamento humano diante da Natureza?; e quinta: Como serão as relações humanas? Em tempos de Coronavírus, reflexões sobre comportamentos, hábitos, costumes, convivências, formas de trabalho, e de estudo, e responsabilidades gerais e específicas têm construído um ambiente de dúvidas que permeiam as bilhões de postagens e de mensagens, que circulam enlouquecidamente pelos celulares, em torno da saúde do planeta, ou melhor dizendo, da falta dela. Lembro – antes de seguir – que a intenção aqui não é responder as perguntas, mas sim refletir sobre elas por serem questões importantes e que impactam nas nossas vidas e na continuidade desse corpo celeste, designado Terra, mas que eu sempre preferi chamar de Lar.

Esse é o ponto de partida para todas as reflexões que faço e que, tenho me perguntado, é também o ponto que dificulta responder aos questionamentos acima. A forma como se enxerga a Terra faz toda a diferença. Se a vemos como um local para ser conquistado ou explorado ou até devastado em busca de satisfações variadas e ganância desmesurada, a reflexão toma um rumo. Porém, se a forma de ver a Terra é como um lugar de se viver bem, cuidar e respeitar os seus espaços e moradores, a reflexão toma outro rumo. Por isso, ao invés de pretender responder às questões, eu convido a refletir sobre as suas consequências. Independente de ver a Terra como um Lar ou não, uma coisa é certa e a COVID-19 já provou, as consequências serão iguais para todos. Então, vamos às reflexões! 

A Economia de hoje é de longe… mas muito longe… parecida com a mesma que foi projetada por especialistas e renomados economistas há um ano ou 6 meses. A própria palavra Economia tende a ganhar novo significado após outra palavra: Pandemia! Se os planos feitos e as projeções em curso nada mais são do que teorias sem efeito, nesse momento e diante de uma causa, a qual não se consegue prever as consequências, o melhor é imaginar o que fazer após tudo isso passar. Para quem enxerga a Terra como um local de exploração e conquista, temo afirmar que as consequências podem ser frustrantes e até nefastas. Porém, elas só serão mesmo assim se nada for mudado, o que é considerado impossível depois da experiência atual. Já as pessoas que pensam na Terra como Lar poderão aumentar após a pandemia e o planeta será economicamente viável, mas só se a maioria viver como moradores responsáveis e que dividem um mesmo condomínio global… gosto muito desse conceito! Nele, quando um cano estoura na cozinha por estar cheio de lixo jogado pelos bagunceiros do andar de cima, o almoço fica prejudicado e ninguém come. Por isso, a melhor forma é coabitar nesse lar de forma consciente para que um não prejudique o outro. Até porque, após a experiência gerada com o Coronavírus, já sabemos que o conserto do cano entupido vai impactar no orçamento previsto para toda a casa e resultará em prejuízos econômicos e privações para todos os moradores.

A Política, essa sim, precisará se reinventar porque se tem algo que a Pandemia provou é que a forma como os líderes políticos agem é o caminho perfeito para o colapso da Terra e para a piora da vida no planeta. Dos mais renomados aos menos conhecidos, dos mais ricos aos mais pobres, dos tidos como mais capacitados aos menos capacitados, sem exceções, em todos os países, a COVID-19 demonstrou a incapacidade deles em saber cuidar do que se propuseram, ou seja, de nos governarem. Quanto mais se ouvem discursos e posicionamentos políticos, nos mais diferentes países do mundo, uma só semelhança é percebida: a de que todos estão perdidos no combate à pandemia. Uns se posicionam melhor publicamente, outros são um desastre total quando falam. Muitos deles foram incompetentes diante de uma ameaça já prevista em relatórios confidenciais, que suas agencias de Inteligência produziram há mais de dez anos, mas que eles não conseguiram deter agora. Eles não foram capazes de projetar os impactos dessa realidade e nem os efeitos que estamos sentindo de uma forma ou de outra. Portanto, se os políticos não mudarem, eles serão mudados. Se entenderem a Terra como um lugar que pertence a todos, onde todos são beneficiados, haverá um planejamento comum. Porém, se continuarem a insistir em expulsar do que consideram “seus quintais” quem não consideram “iguais”, eles é que serão expulsos da Política. Aqueles que continuarem a esgotar os recursos, sejam econômicos ou naturais, com a visão de que sempre há mais para extrair em algum lugar para saciar a ganância insaciável, não receberão votos porque a pandemia com seus efeitos deixará cicatrizes em muitos dos que já foram seus eleitores. Até os que cresceram nos conflitos precisarão mudar porque o momento determina um novo planeta com mais consensos do que dissensos. 

Os países que compõem esse planeta chamado Terra, mas que insisto em chamar de Lar, terão de se relacionar como codependentes entre si. Antes de seguir é importante esclarecer que a Codependência é um termo da área de saúde – segmento tão necessário nestes tempos – usado para se referir a entes ligados fortemente por uma dependência, que nesse caso é o de continuarmos vivos. O modelo de exploração/devastação se exauriu. Se ainda não havia sido percebido por alguns espíritos rebeldes e comprometidos com o caos, a nova ameaça planetária mostrou que precisam se converter ao bem comum. A chegada da COVID-19 colocou por terra a nossa Terra. Se os países não se enxergarem como casas geminadas de um mesmo condomínio global, no qual o lixo no quintal do vizinho atrairá os ratos para o seu quintal, o fracasso será iminente. Se ainda havia dúvidas sobre o fracasso do pensamento de se acharem melhores por serem potências econômicas e militares, ou da capacidade de conterem intrusos através de muros, ou mesmo de impedir invasões de refugiados com fronteiras bem vigiadas, seja por terra ou pelo mar, a pandemia mostrou que tudo isso não tem o menor efeito contra um ser invisível que não respeita mares, fronteiras ou muros. O desejo de alguns países se isolarem de quem não gostavam ou isolarem pessoas do seu convívio, obrigou ao isolamento coletivo no planeta e a lembrança do aviso de quem com ferro fere com ferro será ferido. Afinal, coabitamos no mesmo local.

O comportamento diante da Natureza ou o desrespeito ao planeta que habitamos foi o gatilho que disparou a Pandemia do Coronavírus. A falta de noção em cuidar do local que dividimos e que é de responsabilidade de todos, naquele conceito de condomínio global, fez com que todos sofrêssemos as mesmas consequências. A falta de preocupação com a escassez de produtos essenciais e a certeza de que sempre seria possível extrair um pouco mais, levou ao desequilíbrio atual. Imaginar que matar por matar, extinguir por extinguir e destruir por destruir eram ações sem consequências diante de um ambiente próspero e que renasceria sempre, a COVID-19 mostrou ser diferente. Os hábitos alimentares, decorrentes de fomes seculares, geraram a necessidade de se comer qualquer coisa. Na máxima da estupidez humana se imaginou que a falta de alimento de parte da população não afetaria a outra que se alimentava bem. A fome gerou hábitos alimentares estranhos que, por si, geraram mutações transformadas em epidemias constantes. Foi preciso o mundo parar por uma nova pandemia para que a parcela bem nutrida entendesse que a falta de comida no outro lado, traz a doença para o lado de cá. Se a Natureza era vista como fonte inesgotável de recursos a serem sempre explorados para satisfação de uns sem que o prejuízo do outro fosse percebido, dessa vez, ela cuidou para que o prejuízo fosse sentido como “Alerta Geral”.

Chegamos à última reflexão; as relações humanas! Elas foram estabelecidas, em boa parte dos povos e países, na base da segregação e do isolamento com a falsa crença que deveriam se proteger dos que ameaçavam o bem estar comum de determinada sociedade. Muitos dos que defendiam a segregação com essa tese foram contaminados pelo Coronavírus e estão sendo tratados ao lado de quem, e outras vezes por quem, não queriam nem mesmo conviver. O isolamento que se quis impor por questões raciais, de crença ou de condição financeira, obrigou a todos se isolarem. Penso se isso não ocorreu para saberem que se não somos todos iguais na origem da vida, seremos ao final dela. As consequências do Coronavírus afetaram – indistintamente – americanos e mexicanos, árabes e israelenses, cristãos e mulçumanos, europeus e africanos, chineses e coreanos, assim como petistas e bolsonaristas. As pessoas precisaram serem isoladas para entenderem que fazem parte de um mesmo condomínio global chamado Terra. Nele, a partir de agora, as relações terão de ser repensadas e seguirem novos padrões de convivência para evitar novos males no futuro. Ao fim de tudo isso, se entendermos que somos parte de um mesmo corpo no qual as consequências dos problemas de uma parte serão sentidas pela outra, a pandemia já terá servido para alguma coisa boa. Se não aproveitarmos o momento para refletir sobre tudo que nos ocorre – e essa foi a proposta deste artigo – poderemos não ter mais uma nova oportunidade de perguntarmos: Como seremos depois?

Alexandre Jardim