Publicado por: Rudolfo Lago | 9 abr 2021
Desde a morte de Eduardo Campos em plena campanha presidencial em 2014, o PSB tornou-se meio uma nau sem rumo. Um partido fragmentado e sem um plano político muito claro. Mas, justamente por isso, observá-lo vira uma opção interessante para avaliar os rumos que a oposição tomará para 2022 e quais são as chances.
Dividido, o partido parece ter loteado seus espaços para abrigar em cada ponto seus principais jogadores e dali municiar as diversas opções que não só ele mas toda a oposição têm para o jogo eleitoral do ano que vem. O pernambucano Danilo Cabral tornou-se líder do partido na Câmara retirando dali o carioca Alessandro Molon, que foi se aliar na liderança da Oposição. E o ex-governador de São Paulo Márcio França preside o braço intelectual do partido, a Fundação João Mangabeira. O gaúcho Beto Albuquerque segue na vice-presidência.
Assim, cada perna do PSB fixa-se em um ponto estratégico. Danilo Cabral é remanescente do grupo que era mais ligado a Eduardo Campos e à tentativa que ali se fez de voo próprio. Beto Albuquerque vem fazendo a ponte com o PT a partir da perspectiva de apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, que retornou ao páreo após a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin que anulou as suas condenações na Lava Jato. Márcio França, que foi vice-governador do tucano Geraldo Alckmin e depois assumiu o governo paulista no seu lugar, faz as pontes com o centro e as forças políticas mais conservadoras. E Molon é considerado um jogador independente, apoiador de si mesmo, na visão de quem o critica no partido.
Por fora, corre no PSB uma outra figura: o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa. Em 2018, o PSB ensaiou a candidatura de Barbosa à Presidência, e sua entrada no páreo por um momento movimentou fortemente o tabuleiro. O ex-ministro do Supremo recusou a possibilidade. Mas naquele momento filiou-se ao partido e hoje milita nele. Barbosa novamente rejeita a ideia de ser candidato, mas está trabalhando internamente para influir na costura das alianças que a oposição vem fazendo para 2022. Ele e o PSB acreditam que Barbosa é, no mínimo, um importante cabo eleitoral: para onde pender na disputa, será um nome de peso e influência.
Em torno desses expoentes do partido seguem as perguntas que hoje estão também na cabeça do restante da oposição. Qual é a melhor alternativa para enfrentar Bolsonaro no pleito do ano que vem? Deve-se desde já construir uma aliança robusta unindo diversas forças para derrotar o presidente ou cada força deve sair com seu próprio candidato com um eventual compromisso de união no segundo turno? A ideia de aliança robusta deve ser em torno de um nome de centro eliminando a polarização Lula/Bolsonaro ou deve ser em torno de Lula, diante do quadro que o mostra como mais forte opositor do presidente?
Assim, se tais hipóteses hoje dividem a oposição, elas dividem também o PSB. Nas conversas internas, há uma ala que cogita mesmo a hipótese de lançamento de uma candidatura própria do partido no primeiro turno, que seria o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande. Embora tenha pessoalmente algumas restrições a um alinhamento automático, Beto Albuquerque mantém a aproximação com o PT. E Márcio França com o centro e os grupos mais conservadores.
Na quarta-feira (7), ao dizer que estava “se lixando” para a eleição de 2022, Bolsonaro acabou na sequência traindo o seu desejo de quadro ideal para a disputa. Evidentemente, ao contrário do que afirmou, o presidente só pensa na reeleição, e não é de agora. Na sequência do “se lixando”, ele disse acreditar que vai haver um monte de candidatos na disputa. Ou seja, no fundo a aposta hoje de Bolsonaro reside na ideia de uma fragmentação dos seus adversários que o coloque no segundo turno. Com Lula. E aí, no segundo turno, ele imagina poder vencer dada a rejeição forte que ainda há sobre o candidato petista.
Assim, o raciocínio de quem deseja vencer Bolsonaro em 2022 passa também por isso. Ou acreditar que a polarização agora venha a dar em outro resultado ou ajudar a construir um novo cenário. E o curioso na edição de hoje do Jornal de Brasília é notar que tal raciocínio acontece mesmo dentro do PT, a partir da visão de um expoente do partido, seu ex-presidente Ricardo Berzoini.
Na entrevista, Berzoini deixa claro que, na sua visão, a construção de uma aliança mais ampla para derrotar Bolsonaro é algo mais importante que a definição agora de nomes. Mesmo quando um dos nomes na discussão é o de Lula.
É por isso que acompanhar as evoluções de uma legenda como o PSB, um partido literalmente “partido”, é importante para compreender por qual rumo seguirá no futuro próximo a política brasileira.