Estabelecer o quanto há de Jair Bolsonaro no fato de Celso Russomanno (Republicanos) ter largado na frente na corrida eleitoral pela prefeitura de São Paulo ainda é, a essa altura, uma tarefa difícil. De acordo com pesquisa divulgada ontem pelo Datafolha, Russomanno lidera com 29% das intenções de voto, seguido pelo prefeito Bruno Covas (PSDB), que tenta a reeleição. Em seguida, vem Guilherme Boulos (PSOL), com 9%, e Marcio França (PSB), com 8%. Ou seja, neste primeiro retrato, a disputa está principalmente entre Russomanno e Covas.
Em princípio, Russomanno é o candidato de Bolsonaro em São Paulo. Mas estabelecer até que ponto isso influi hoje na sua liderança, e se essa influência lhe é positiva ou negativa é onde hoje se debruçam aqueles que lêem as pesquisas e tentar traçar o norte político a partir delas.
O primeiro ponto a se considerar é que Russomanno à frente de pesquisas no início das eleições não é exatamente uma novidade. Já aconteceu em diversos pleitos anteriores. E isso inclusive lhe concedeu a fama de “cavalo paraguaio”: costuma sair na frente, mas não tem fôlego para ir até o final. Não dá ainda para saber se desta vez ele estará preparado para liderar o páreo até o final.
Se desta vez Russomanno tiver esse fôlego extra, essa nova vitamina pode ser Bolsonaro? A pesquisa Datafolha, nesse sentido, dá sinais trocados. Por um lado, ela verificou a existência de uma rejeição grande do eleitorado a alguém que fosse claramente apoiado pelo presidente. Perguntados se apoiariam alguém indicado por Bolsonaro, um percentual expressivo, 64%, disse que não. Mas, em contrapartida, 11% disseram que sim, sem dúvida nenhuma, e 23% disseram que poderiam levar a ideia em consideração.
Diante do fato de que será uma eleição extremamente pulverizada, com 17 candidatos, se por um lado o apoio pode parecer ruim pela rejeição, por outro ele pode permitir base suficiente para se destacar nessa multidão de gente no páreo.
Conta a favor de Russomanno que o cabo eleitoral de Covas, o governador de São Paulo, João Doria, não aparece muito melhor na fita. Entre os entrevistados, 59% não votariam em um candidato indicado por Doria.
Diante do quadro, é provável que Bolsonaro siga na principal eleição municipal do país com a estratégia que adotou até agora. Vai para a torcida mais ou menos como aquele personagem de Nelson Rodrigues, a grã-fina com narinas de cadáver que, da arquibancada, perguntava aos demais torcedores: “Quem é a bola?”. Ou seja: torce sem se comprometer muito diretamente. Ou, como diriam, os italianos, é aliado, ma non troppo.
Ainda que não tenha planejado isso, acabou se tornando uma vantagem para Bolsonaro não ter um partido político nestas eleições municipais. Lhe permite escolher com que distância vai acompanhar o pleito. Lhe permite aderir somente na boa: se lhe for conveniente, explicita o apoio; se não, recolhe-se.
Assim, o provável é que dependa muito mais de Russomanno do que o contrário o apoio explícito de Bolsonaro. Se ele se descolar na liderança e nada parecer empanar o seu caminho, o presidente pode apoiá-lo explicitamente. Se houver chance de prejuízo político para o presidente, isso não acontecerá. E raciocínio semelhante cabe, por exemplo, para o prefeito Marcelo Crivella no Rio, que tenta a reeleição em meio a diversos percalços e denúncias.
O fôlego a mais para fazer de Russomanno mais que um cavalo paraguaio desta vez pode vir de Bolsonaro. Mas, por enquanto, é difícil imaginar o presidente montado na sua garupa. É mais fácil tentar encontrá-lo escondido debaixo da sela.